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domingo, 20 de outubro de 2024

CONHECENDO O TAPERUÇU VELHO.

 

Cypseloides senex, o TAPERUÇU VELHO.

 

O Andorinhão ou Taperuçu velho tem esse apelido, certamente, devido seu aspecto parecendo envelhecido. Com a cabeça esbranquiçada, o que dá às pessoas uma imagem de idade. Trata-se de uma ave que apesar de não ser rara, é pouco conhecida devido seus hábitos. O Hábito de viver em paredões rochosos com cachoeiras, pousando atrás da cortina d'água desses paredões, dificulta a observação dessa ave, mesmo que possa ser numerosa. Talvez a espécie tenha evoluído para se proteger exatamente nesses lugares. Convenhamos que algum predador terá de dispender um bom esforço para conseguir predar esses taperuçus nesses locais.

Mesmo ficando empoleirados nesses locais, em alguns intervalos, observamos indivíduos que saem, discretamente, da cachoeira para excursões na mata ou em seus arredores. Certamente à procura de comida, que no caso dessa ave, trata-se de insetos alados, que são capturados nesses voos.




FOTO

A cachoeira de Matilde, no município de Alfredo Chaves este estado do Espirito Santo é uma cachoeira de grande porte, com uma queda de 70 metros de altura,.

Foto disponível em A Cachoeira de Matilde tem a Maior Queda Livre do Espírito Santo - Terra Capixaba

 

Mesmo atravessando uma época de seca, notamos uma boa quantidade de agua! Estivemos nesse mês de outubro na cachoeira e verificamos que o Taperuçu está nidificando. As aves empoleiram na pedra e encontram  pequenos refúgios ou saliências que lhes permitem instalar seus ninhos.


A ave empoleirada na pedra, atrás da cortina d'água da cachoeira. Ave insetívora, o Taperuçu costuma habitar essas regiões, algumas vezes em bandos muito numerosos. Observamos também as viagens de alguns integrantes do bando, saindo em voo baixo da cachoeira dirigindo-se para os arredores da mata.

Observamos também, como pode ser visto abaixo, que algumas dessas aves estão nidificando.



Algumas aves ocupavam espaço aconchegado na pedra. Supomos que nesse caso, estão nidificando. De qualquer modo, é de se admirar com a situação um pouco precária que essas aves escolhem para nidificar. Com a presença constante da humidade a atrapalhar a atividade.

O Taperuçu velho não é raro. ocorre na maioria dos estados e no Espirito Santo, já foi registrado em 9 municípios.

Agradecemos às pessoas que nos visitam!!!

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

AS BELISSIMAS MATAS DE CAMPOS DO JORDÃO!

 

Campos do Jordão é a cidade mais alta do Brasil, situada a 1.628 m. de altitude e seu clima e vegetação são do tipo temperado. Estivemos lá entre os dias 02 a 06 de outubro pp. Durante as noites as temperaturas ficaram entre os 9 e 11 graus e durante os dias, houve máxima de 17 graus e, no final, dia 5 de outubro, a máxima chegou a 26 graus, o que nos disseram não ser muito comum na cidade. 

A vegetação do município é uma das mais bonitas do Brasil. Trata-se de um dos locais onde as matas de araucárias continuam presentes com toda sua pujança. Como situa-se na Serra da Mantiqueira, as araucárias dominam amplamente a paisagem natural. O Parque Estadual de Campos do Jordão é um dos locais onde essas matas ainda estão bem preservadas. Sempre tive uma grande admiração pela beleza dessas matas e também, já li e pesquisei sobre elas.

 Nessas leituras, uma das surpresas, foi descobrir que a Araucária, Araucária angustifólia, não é a única conífera brasileira. Sim, um dos elementos presentes nas matas nativas da araucária, e que quase sempre aparecem nas sombras,  delas, e de outras arvores, é outra conífera! Conhecida como Pinheiro bravo ou Pinheirinho, trata-se de Podocarpus lambertti. Essa conífera, segundo Harri Lorenzi, em sua obra Arvores Brasileiras, "Ocorre nos Estados de Minas Gerais, Espirito Santo, Rio de Janeiro até o Rio Grande do Sul, na floresta de altitude e mata de pinhais, é particularmente frequente no Planalto Catarinense".


Mesmo não tendo a exuberância da Araucária, o Podocarpos impressiona bem por sua presença.


As folhas aciculadas da árvore facilitam seu reconhecimento.


A Beleza da mata, notar que as araucárias dominam o dossel.




Essas florestas belíssimas estão ameaçadas! Essa ameaça vem de muitos lugares, mas a maior, pelo que pude perceber das leituras e conversa com biólogos na região, é que a reprodução da Araucária é um pouco complicada. Isso faz com que a arvore perca terreno para outras espécies mais adaptáveis e possuidoras de rápido crescimento. Somente a conscientização das pessoas poderá impedir um destino difícil para essa árvore magnifica, única na paisagem brasileira.

Distribuição de Araucária angustifolia, segundo a Wikipedia: Araucária – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)


A distribuição historica da espécie alcançava 200.000 Km2.; estando muito reduzida!

Segundo a Wikipédia:

"A araucária ocorre como a espécie arbórea dominante da floresta ombrófila mista da América do Sul, entre as latitudes de 18º e 30º sul. Desenvolve-se, de acordo com Angeli (embora outros autores ofereçam dados ligeiramente diferentes), em altitudes de 800 a 1 800 m no norte de sua distribuição, e entre 500 e 1 200 m na parte sul, em regiões de precipitação anual uniforme entre 1 250 e 2 200 mm, e de temperaturas médias anuais de 10 a 18 °C (mas tolera bem temperaturas de até -5 °C). Prefere solos profundos, férteis e bem drenados. Também é encontrada em bosques isolados em áreas de campo. A maior parte de sua área de ocorrência está dentro do Brasil, das serras do Rio Grande do Sul ao Paraná, com outros pontos até Minas Gerais e pequenos trechos na Argentina e Paraguai.[2][14][20][21] Existem ocorrências até as proximidades do Rio Doce em Minas Gerais e no Rio de Janeiro em áreas de altitude elevada. Augusto Ruschi relatou a presença da espécie no ano de 1939 em um bosque relicto na Serra do Caparaó no Espírito Santo, acima de 1700 m de altitude, com cerca de 300 indivíduos adultos.[22] Foi introduzida artificialmente, entre outros lugares, no sul da Bahia, na África do Sul, na Austrália, no Quênia, em MadagascarPortugal e no Zimbábue, com comportamento variável.[2

Vimos araucárias nativas também no Parque Nacional do Itatiaia:







Além de sua beleza e fitofisionomia, essa floresta é habitada por muitos animais interessantes componentes de nossa fauna.

Agradecemos às pessoas que nos honram com suas visitas!!



domingo, 13 de outubro de 2024

CONHECENDO O BACURAU TESOURÃO.

O BACURAU TESOURÃO.

 

Ele já era meu conhecido há tempos. Mas, tem muitos anos que não o encontrava! Por minha culpa, por não ir procura-lo onde mora. Mas, dessa vez, visitando a belíssima Campos do Jordão em São Paulo, tivemos a oportunidade de encontra-lo. Já o tinha visto em 1988 no Parque Estadual de Pedra Azul no Espirito Santo e, também no Parque Nacional do Caparaó, divisa de MG/ES, sempre em altitudes em torno de 1.500 metros. Campos é a cidade mais alta do Brasil, situada a 1.628 m. de altitude e seu clima e vegetação são do tipo temperado, predominando as belíssimas matas com araucárias. 


O Bacurau

Hydropsalis forcipata é uma ave da família  dos bacuraus e curiangos, os Caprimulgidae. São aves beneficiadas pela abundancia de insetos noturnos existentes em nossos campos e matas. O Bacurau tesoura já foi chamado de Bacurau Tesoura gigante. Isso devido seu tamanho e o comprimento de sua cauda. O macho mede cerca de 76 cm. Sendo que somente a cauda, mede 55 cm. desse comprimento. Um espetáculo proporcionado por esse bacurau é quando conseguimos vê-lo pousado com as retrizes alongadas pendentes! Também quando voa, produz outro espetáculo admirável, com as retrizes alongadas chamam muito a atenção devido seu tamanho!


Individuo macho do Bacurau Tesoura, que vimos ao entardecer, por volta das 18 hs. em estrada de terra, próxima aos campos de altitude no município de Campos do Jordão. Notar o comprimento das retrizes.

 

O Bacurau tesourão ainda não é enquadrado em categorias de ameaça pela IUCN, porém, como habita uma área restrita, de áreas montanhosas no sul e sudeste do Brasil, o desmatamento dessas áreas, principalmente os campos de altitude e as matas próximas, pode vir a ficar realmente ameaçado.


Esse bacurau, pelo que observamos, também aprecia pousar nas estradas no crepúsculo, a exemplo de outros bacuraus. É ave noturna, mas, principalmente crepuscular quando pode ser visto. É exclusivamente insetívoro, e a fêmea deposita dois ovos por ocasião da nidificação. A espécie não constrói ninho. Os ovos são depositados em local bem camuflado, sobre a terra, mas acolchoado com palhas de arbustos secos. O casal se reveza na tarefa de chocar os ovos.

Ao voar na estrada, a ave produz certo sussurro sonoro talvez devido suas longas retrizes. Costuma sempre voltar depois desses voos. E sua voz é um "cricri"  semelhante à vocalização de grilos. A fêmea é menor e não possui as retrizes alongadas.

Essa é uma ave muito interessante para o observador de aves, fotografar e estudar seus movimentos. 


Muito obrigado, pessoas amigas que nos visitam!

 


terça-feira, 24 de setembro de 2024

NOVO ENCONTRO COM ARAPONGAS!

 

Procnias  nudicollis.

 

Considero essa ave tão especial, que todo registro que conseguir fazer, vou postar no site Wiki Aves, mesmo que sejam repetitivos! Trata-se da ave a que SICK, em seu livro Ornitologia brasileira, de 1985,  chama de “A voz da mata atlântica”. E realmente, a araponga é uma ave muito representativa do ambiente em que se abriga. Sendo um pássaro exclusivamente da floresta, a presença da araponga é um atestado de boa conduta referente à floresta em que vive.

Diversos autores já se pronunciaram a respeito da importância e da significância da araponga para a mata atlântica. Dentre esses relatos, uma dos mais belos é o de Eurico Santos, datado de 1939, referimo-nos ao livro Pássaros do Brasil, componente de sua coleção de titulo Zoologia Brasílica. Diz Eurico Santos: “Para entender aquela musica ( o canto da araponga!), é preciso perlustrar as longas estradas cheias de sol do nosso sertão. É naquele cenário de mágica, sob o sol ardente, quando sentimos quase a crepitação da terra em fogo, que o Ferreiro está em plena atividade. Pousado no cimo de árvore gigantesca, sentindo o suave calor da vasta oficina, dá ele à lima, enlevado no labor do trabalho. Malha e remalha, enchendo de ressonâncias as amplidões. ”  Ferreiro, é outro dos nomes populares que a Araponga é conhecida. Devido, claro, ao fortíssimo som de sua vocalização, que se assemelha muito a uma batida do ferro na bigorna, durante o oficio dos ferreiros.

Apesar de já ser considerada como ameaçada, a araponga ainda é bem encontrada em nossas matas remanescentes de bom  tamanho, principalmente na região serrana, onde temos visto todos os anos, somente na época de nidificação.

Fomos na sexta feira dia 20 de setembro, à cidade de Santa Leopoldina neste estado do Espirito Santo. Foi uma excursão com minha esposa e os amigos Elzeni e Evandro Limonge. Uma “passarinhada” como gostamos de falar. Essa passarinhada divertida, tinha, claro, a intenção de observar e fotografar aves da mata e, após, almoçar um apetitoso almoço da pousada próxima. A localidade escolhida foi o distrito de Chaves, onde se encontra a cachoeira do véu de noiva,  E  foi um pouco arriscada, pois o tempo nublado e úmido fazia prever uma chuva, como de fato ocorreu!. Até isso fomos beneficiados pois o tempo tem estado seco há bastante tempo. Nesse encontro que estou relatando, subimos um dos morros do lugar e lá ouvimos algumas vocalizando como se estivessem em um concurso de gritos! Subimos uma estradinha rural bem íngreme e chegamos debaixo da árvore onde uma das arapongas  estava cantando!



















Pelo timbre de sua voz, percebi tratar-se de um jovem já quase adulto. Talvez estivesse já no segundo ano de vida.

Somente com o binóculo consegui visualizar a ave no alto da copa. E começou a chover e o pássaro mudou de galho, foi para a parte mais alta como se quisesse se molhar, curtir a chuva e logo ficou com a plumagem arrepiada na tentativa de diminuir a umidade das penas.


Araponga se secando!

Não produziu fotos bonitas, mas o simples contato com essa ave emblemática da mata atlântica já vale qualquer sacrifício na tentativa de fotografa-la. E mais ainda, a sensação, ainda que rápida, de que nossas aves vão conseguir escapar da extinção e destruição das matas.

A localidade de Chaves fica no município de Santa Leopoldina e tem esse nome há bastante tempo., Além da cachoeira, cujo nome nos registros do município aparece como Cachoeira de Chaves, temos também uma belíssima igrejinha católica conhecida no local como Igrejinha de Chaves. Nos idos de 1940-50, Chaves  foi muito visitada pelos pesquisadores do Museu Paulista, hoje MZUSP, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Na ocasião, os coletores do Museu, principalmente OLALLA, fez várias coletas de aves no lugar. Esses exemplares, foram referenciados no antigo livro de Olivério Mario de Oliveira Pinto, o  Catalogo das Aves do Brasil. Nessa magnifica obra, creio de 1944, temos vários espécimes mencionados como coletados em Chaves.


Estradinha rural, próximo ao local onde fotografamos a araponga. Observar as encostas florestadas e um plantio de eucalipto à esquerda. No céu, muitas nuvens, prenunciando a chuva, que felizmente, veio.



Encosta próxima ao local das fotos. Notar a vegetação com grande numero das imbaúbas brancas, Cecropia hololeuca, que, inclusive, é uma das árvores que produz muitas frutas nativas que são alimentos da Araponga.

Podemos observar, pelo mapa abaixo, que a Araponga, Procnias nudicollis, continua bem registrada na parte oriental do país, a Mata Atlântica.



Os pontos vermelhos são os locais de registros da araponga, Procnias nudicollis.

O Mapa de registros já efetuados e constantes na plataforma WIKI AVES: Mapa de registros da espécie araponga (Procnias nudicollis) | Wiki Aves - A Enciclopédia das Aves do Brasil



Valeu arapongas!  É esse o relato que tínhamos a fazer! 

Muito obrigado, pessoas amigas que nos visitam!


sábado, 7 de setembro de 2024

Encontro com uma ave desconfiada: a Borralhara!

 

ENCONTRO COM A BORRALHARA, Mackenziaena severa.

A Borralhara é uma ave da família Thamnophilidae e é citada no livro de SICK, Ornitologia brasileira, de 1985, como um “dos formicarideos mais notáveis do sudeste do Brasil”. De fato, quem presencia o aparecimento dessa ave dentro da mata e sua movimentação, não deixa de admira-la por suas peculiaridades.

Primeiro, pelo tamanho, cerca de 23 cm. O que a quase iguala a um Sabiá laranjeira, Turdus rufiventris! E também por outros predicados, como a capacidade de responder à imitação de seu canto por meio de gravador. Também seu comportamento  é notável! Devido seu tamanho e ao fato de ser ave das brenhas baixas, quase rasteiras, o voo da Borralhara é pesado, e também, não muito longo.

Seu habitat é a mata atlântica, seja em matas ou capoeiras. Esconde-se nas ramagens e brenhas densas, mas seu trai  pelo colorido e sendo uma ave de bom porte, acaba por ser localizada.

Como todos os “papa-formigas”, a Borralhara é uma ave insetívora, alimentando-se de insetos, larvas e pequenos invertebrados que captura nas folhas, galhos e também no solo.

A Borralhara é adaptável. Pode ser registrada até mesmo em plantações de eucaliptos com sub- boque desenvolvido com vegetação nativa. Nosso primeiro registro dessa ave deu-se no ano de 2013. Na ocasião, foi difícil conseguir o registro. Tivemos de nos camuflar com folhas de arbustos para a ave se aproximar e conseguirmos fazer as fotos.


Mackenziaena severa fotografada na localidade de Soído, Domingos Martins, ES. dia 05-9-24.

A degradação das matas, acaba por prejudicar muito a Borralhara, pois depende muito dos arbustos ou brenhas das matas para morar. Se o sub bosque é suprimido, fica sem onde forragear e se esconder. Observamos que pode existir em capoeiras desde que tenha um sub bosque denso, permitindo-lhe se refugiar.


A foto do primeiro registro que fiz dessa ave, em Agosto de 2013 na Serra do Limoeiro em Itarana. ES.










A Borralhara habita a região da mata atlântica, no Brasil, Paraguai e Argentina. No Brasil, começa a aparecer na Bahia, em regiões de altitude como em Boa Nova, e vai até o Rio Grande do Sul. No Espirito Santo é uma das aves que somente são registradas nas montanhas acima dos 500 m. A partir do sul do  Rio de Janeiro já existem registros ao nível do mar.

Distribuição dos registros da Borralhara no Wiki Aves, segundo o mapa da espécie: http://www.wikiaves.com.br/mapaRegistros_borralhara


Portanto, a Borralhara é uma de nossas aves notáveis da Mata Atlântica como disse nosso saudoso Helmut Sick!











Agradecemos as pessoas que nos visitam: Obrigado!




domingo, 11 de agosto de 2024

Novo encontro com uma ave discreta, o Sabiá castanho, Cichclopsis leucogenys.

 Aves da família Turdidae, recebem no Brasil, a denominação popular de Sabiás. No caso presente, estamos falando de um dos representantes da família que mais despertam curiosidades!  Para começo de conversa, falemos de sua distribuição geográfica. Segundo o site Wiki Aves, www.wikiaves.com.br, esse sabiá habita no Brasil uma área bem restrita, com cerca de 20.000 Km2. nos Estados do Espirito Santo, Bahia e Minas Gerais. Sempre em regiões montanhosas, em matas primárias entre 750 a 850 m. de altitude (Wiki Aves).  Além da espécie típica, que ocorre apenas no Brasil, nos estados citados, essa espécie ocorre também em outros países da América do Sul, com três subespécies. Sendo duas subespécies nos Andes, uma no SO da Colômbia e NO do Equador; outra na região central do Peru, no lado leste da Cordilheira dos Andes e uma terceira ocorrendo nos tepuis no SE da Venezuela. Segundo SICK em seu livro Ornitologia brasileira, a espécie brasileira representaria uma população remanescente ou relita. Quer dizer, esse sabiá seria uma população residual, remanescente de outras épocas em que possivelmente teria sido mais abundante.



O Sabiá castanho, fotografado na ultima sexta-feira, dia 09-8-2024, na mata da Reserva Biológica Augusto Ruschi em Santa Teresa, estado do Espirito Santo, Brasil. Cerca de 750m. de altitude.

Apesar de listada pela IUCN na categoria EN de ameaçada, acredita-se que seu declínio populacional seja lento, não sendo tão rápido a ponto de ser considerada como muito ameaçada. No Brasil, sempre foi considerado como raro. Entretanto, os dados sobre sua nidificação, parecem confirmar que a espécie ainda tem condições de sobreviver a ondas de extinção desde que as matas onde vive não sejam destruídas, claro!

Segundo o WA, a espécie faz três posturas por ano, com três ovos em cada ninhada. Isso pode proporcionar uma sobrevivência para esse sabiá. Não é comum de ser avistado nas matas onde ocorre. Menos difícil é registra-lo na época de nidificação. Como agora, em Agosto, onde a ave vocaliza mais e torna-se menos difícil procura-lo.

Outro detalhe importante de seus registros, é que apenas a altitude não é garantia de encontra-lo. No Espirito Santo temos vários locais com essas altitudes, porém, até o momento só foi registrado nos municípios de Santa Teresa e Fundão. Com certeza, deve ocorrer também na mata primária da Rebio de Duas Bocas no município de Cariacica, onde, por volta de 1988-89, foi registrada por este observador, entretanto sem fotografias para comprovação.


Ave do interior da floresta, Cichclopsis leucogenys, é discreto e fleumático.

Canta por longo tempo ficando imóvel, raramente e movendo e nessas ocasiões proporciona boas oportunidades de ser fotografado!

É inegável que os observadores de aves, os birders, se sentem atraídos por essas aves mais raras e misteriosas.





A distribuição, disjunta e fragmentada do Cichclopsis leucogenys na América do Sul. Segundo SICK, isso seria devido a tratar-se de uma ave relíquia de outras épocas.

Em comum essas áreas tem as altitudes e a cobertura da floresta.





Agradecemos às pessoas que nos honram com sua visita. Para maiores conhecimentos sobre essas aves, a única forma de ampliarmos nossos limites, penso, é observa-lo no interior da mata e relatar nossas experiencias.



sábado, 20 de julho de 2024

Revisão amadora de um Binóculo antigo: LEITZ TRINOVID 8X40 Ba.

 Os binóculos da marca Leitz, atualmente Leica,  são muito cobiçados por observadores de aves do mundo inteiro. Sua fama de excelente ótica aliada à beleza e elegância de seu design conquistou fãs de varias gerações. Foi no ano de 1984, quando, jovem observador de aves, pela primeira vez tomei conhecimento desse binóculo famoso. Na ocasião, os modelos 7x35, 8x40 e 8x32 eram os mais indicados para os observadores. Porém, em nosso país, nunca tivemos qualquer oportunidade de comprar um bino desses, tão emblemático e distante! 

Recentemente, adquiri no mercado livre um desses modelos antigos, claro, já usado. Com uma numeração de série numero 883.503 e pelo que já consegui pesquisar na internet, provavelmente foi fabricado entre 1985 a 1988. Recentemente pude ler um artigo sobre uma unidade de numero 907.071 com informações de que teria sido produzida em 1988. Então, suponho que nosso binoculo tenha sido produzido entre esse período, de 1985 a 1988.



O Leitz, modelo 8x40 Ba. feito em Portugal.























O Binóculo está muito bem conservado, embora não tenha nem a case e nem os acessórios, provavelmente perdidos no tempo.

No barril do lado direito, pode ser visto: Portugal. Número 883503.

Há cerca de 50 anos a Leica mantem uma fábrica em Portugal, produzindo binóculos premium com a mesma excelência da fabrica na Alemanha.

O Binoculo encontra-se perfeitamente colimado e totalmente limpo de fungos e arranhões.

Lembro, contudo, que esse exemplar passou por excelente revisão no Rio de Janeiro, com Jady Vogel, limpando seus componentes.







Aspecto das objetivas.
















O Desempenho desse binóculo é surpreendente tendo em vista que já possui cerca de 40 anos de uso, período em que os binóculos, principalmente os equipamentos de prisma de telhado (roof) passaram por muita evolução em seus revestimentos. Binóculos atualmente são produzidos com basicamente dois tipos de prisma: o prisma Porro, mais tradicional, que forma binóculos mais volumosos e o prisma de telhado, ou Roof, que produz binóculos mais compactos, finos e elegantes. Porém, os porros são menos difíceis de se produzir e, com bons revestimentos produzem lindas imagens. Já os telhados, exigem maiores custos de produção pela dificuldade de se conseguir imagens nítidas e de ótima qualidade.  Por volta de 1990 foi introduzida a tecnologia de correção de fase, que faz com que binóculos de prisma de telhado tenham uma melhora significativa em suas imagens. A boa qualidade das imagens produzidas por um bino, está diretamente ligada às qualidades de seus revestimentos nas lentes e nos prismas.
Então, a curiosidade era saber se esse binóculo, de insuspeita qualidade, realmente produz imagens agradáveis, principalmente se comparado com modelos mais recentes.
Com o manuseio, concluímos que as imagens são de ótima qualidade, fazendo  justiça a sua fama. Encanta no manuseio desse Leitz, sua ergonomia perfeitamente adaptada às mãos de usuário.
Mas para se fazer um teste mais próximo da realidade, escolhi comparar esse Leitz com um telhado moderno, um binoculo que está na linha atual da Nikon ( outro dos fabricantes de binóculos de alta classe no mercado mundial.)


Fiz uma comparação entre o Leitz antigo e esse binoculo muito moderno e atual da Nikon, o Monarch M7.
Um modelo compacto, 8x30, totalmente a prova d'água e preenchido com nitrogênio a fim de se evitar embaçamento.

Ainda mais: óticas totalmente multirrevestidas, com correção de fase e o famoso vidro ED. que melhora a dispersão de luz.













os dois modelos, binóculos de 8 aumentos, produziriam uma competição justa mesmo com a grande diferença de idade entre os dois competidores.
Esse Nikon é um excelente binoculo de bird watching, com 8 aumentos de potência, campo de vista de 8,3 graus e baixo peso (cerca de 510 gramas).
Tendo uma ótima resolução e muito brilhante.





O Resultado de nossa comparação?  O venerável Leitz se saiu muito bem, se lembrarmos dos 40 anos de diferença tecnológica. Continua surpreendendo com ótimas imagens e brilho muito bom. Na época em que foi fabricado, anos 80, ele deveria estar no topo e como as pessoas não conheciam uma nitidez mais melhorada, devem ter feito muito sucesso! Esse exemplar, pode muito bem ser utilizado no campo hoje em dia com bons resultados!
Porém, ele perde para o pequeno Nikon em pontos importantes, que eu atribuo, à falta da correção de fase nos prismas:
a) O Nikon apresentou foco mais afiado, com imagens muito nítidas e muito bem delineadas.
b) O Nikon é a prova d'água, o que proporciona mais tranquilidade ao observador se começar a chover.
c) O Nikon, como os demais binóculos atuais, possui o mecanismo do relevo de olho ajustável, permitindo aumentar ou diminuir essa distância. Nos modelos antigos, como neste Leitz, o relevo de olho é feito de borracha dobrável, mas sem a mesma facilidade de uso.
d) novamente talvez devido à correção de fase, o Nikon apresenta menor dispersão de luz, fazendo com que as imagens produzidas adquiram um efeito mais natural.

Já o Leitz ganha na ergonomia, sendo agradável de se segurar, mesmo que mais pesado.

Deve-se ressaltar que o Leitz em sua época integrava o seleto grupo de binóculos de grau elevado, o topo de linha, enquanto o Nikon Monarch M7, atualmente mesmo sendo considerado um equipamento de ótima qualidade, apenas faz parte da "linha média" da Nikon.

Isso demonstra o extraordinário progresso na fabricação de binóculos nos últimos 40 anos.

Como disse no inicio, trata-se somente de uma revisão amadora, restrita aos aspectos do uso dos modelos.

Muito obrigado as pessoas que nos honram com suas visitas!