Procnias nudicollis.
Considero essa ave tão especial, que todo registro que
conseguir fazer, vou postar no site Wiki Aves, mesmo que sejam repetitivos! Trata-se da ave a que SICK, em
seu livro Ornitologia brasileira, de
1985, chama de “A voz da mata atlântica”. E realmente, a araponga é uma ave muito
representativa do ambiente em que se abriga. Sendo um pássaro exclusivamente da
floresta, a presença da araponga é um atestado de boa conduta referente à
floresta em que vive.
Diversos autores já se pronunciaram a respeito da importância
e da significância da araponga para a mata atlântica. Dentre esses relatos, uma
dos mais belos é o de Eurico Santos, datado de 1939, referimo-nos ao livro Pássaros do Brasil, componente de sua
coleção de titulo Zoologia Brasílica. Diz Eurico Santos: “Para entender aquela musica ( o canto da araponga!), é preciso
perlustrar as longas estradas cheias de sol do nosso sertão. É naquele cenário
de mágica, sob o sol ardente, quando sentimos quase a crepitação da terra em
fogo, que o Ferreiro está em plena atividade. Pousado no cimo de árvore
gigantesca, sentindo o suave calor da vasta oficina, dá ele à lima, enlevado no
labor do trabalho. Malha e remalha, enchendo de ressonâncias as amplidões. ” Ferreiro, é outro dos nomes populares que a Araponga é conhecida. Devido, claro, ao fortíssimo som de sua vocalização, que se assemelha muito a uma batida do ferro na bigorna, durante o oficio dos ferreiros.
Apesar de já ser considerada como ameaçada, a araponga ainda é bem encontrada em nossas matas remanescentes de bom tamanho, principalmente na região serrana, onde temos visto todos os anos, somente na época de nidificação.
Fomos na sexta feira dia 20 de setembro, à cidade de Santa
Leopoldina neste estado do Espirito Santo. Foi uma excursão com minha esposa e
os amigos Elzeni e Evandro Limonge. Uma “passarinhada” como gostamos de falar. Essa passarinhada divertida, tinha, claro, a intenção de observar e fotografar aves da mata e, após, almoçar um apetitoso almoço da pousada próxima. A
localidade escolhida foi o distrito de Chaves, onde se encontra a cachoeira do véu
de noiva, E foi um pouco arriscada, pois o tempo nublado e
úmido fazia prever uma chuva, como de fato ocorreu!. Até isso fomos
beneficiados pois o tempo tem estado seco há bastante tempo. Nesse encontro que
estou relatando, subimos um dos morros do lugar e lá ouvimos algumas vocalizando
como se estivessem em um concurso de gritos! Subimos uma estradinha rural bem íngreme
e chegamos debaixo da árvore onde uma das arapongas estava cantando!
Pelo timbre de sua voz, percebi tratar-se de um jovem já
quase adulto. Talvez estivesse já no segundo ano de vida.
Somente com o binóculo consegui visualizar a ave no alto da
copa. E começou a chover e o pássaro mudou de galho, foi para a parte mais alta
como se quisesse se molhar, curtir a chuva e logo ficou com a plumagem
arrepiada na tentativa de diminuir a umidade das penas.
Araponga se secando!
Não produziu fotos bonitas, mas o simples contato com essa
ave emblemática da mata atlântica já vale qualquer sacrifício na tentativa de
fotografa-la. E mais ainda, a sensação, ainda que rápida, de que nossas aves
vão conseguir escapar da extinção e destruição das matas.
A localidade de Chaves fica no município de Santa Leopoldina e tem esse nome há bastante tempo., Além da cachoeira, cujo nome nos registros do município aparece como Cachoeira de Chaves, temos também uma belíssima igrejinha católica conhecida no local como Igrejinha de Chaves. Nos idos de 1940-50, Chaves foi muito visitada pelos pesquisadores do Museu Paulista, hoje MZUSP, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Na ocasião, os coletores do Museu, principalmente OLALLA, fez várias coletas de aves no lugar. Esses exemplares, foram referenciados no antigo livro de Olivério Mario de Oliveira Pinto, o Catalogo das Aves do Brasil. Nessa magnifica obra, creio de 1944, temos vários espécimes mencionados como coletados em Chaves.
Estradinha rural, próximo ao local onde fotografamos a araponga. Observar as encostas florestadas e um plantio de eucalipto à esquerda. No céu, muitas nuvens, prenunciando a chuva, que felizmente, veio.
Encosta próxima ao local das fotos. Notar a vegetação com grande numero das imbaúbas brancas, Cecropia hololeuca, que, inclusive, é uma das árvores que produz muitas frutas nativas que são alimentos da Araponga.
Podemos observar, pelo mapa abaixo, que a Araponga, Procnias nudicollis, continua bem registrada na parte oriental do país, a Mata Atlântica.
Os pontos vermelhos são os locais de registros da araponga, Procnias nudicollis.
O Mapa de registros já efetuados e constantes na plataforma WIKI AVES: Mapa de registros da espécie araponga (Procnias nudicollis) | Wiki Aves - A Enciclopédia das Aves do Brasil
Valeu arapongas! É esse o relato que tínhamos a fazer!
Muito obrigado, pessoas amigas que nos visitam!