PASSARINHADA NO RIO DOCE, ES, BRASIL.
Pyrrhura cruentata, a Tiriba-Grande, ameaçada: VU.
O Rio Doce possui
853 Km. de extensão, desde o interior de Minas Gerais até sua foz em Regência,
município de Linhares, ES. No passado suas florestas eram famosas pela
exuberância e riqueza faunística. Para os ornitólogos, sua bacia é de grande
importância pois marca uma dos territórios mais importantes para nossa fauna, a
região dos tabuleiros do leste do Brasil. Essa região, da baixada litorânea,
que se estende até o sul da Bahia é o domínio da Floresta Atlântica dos tabuleiros, com
grande semelhança da flora e faunística com a Floresta Amazônica. As maiores
reservas florestais do Estado do Espirito Santo localizam-se nessa região, as
Reservas de Sooretama e a da Vale. Nas proximidades existem algumas RPPN como a
Fazenda Cupido e outras. Nossa
passarinhada foi em uma área de matas secundárias que margeiam o Rio Doce, as
matas de “cabruca”, que são plantações de cacau sombreadas. As arvores maiores,
remanescentes da floresta original foram mantidas para sombrear as arvores dos
cacaueiros. Esse método de cultivo, comumente chamado de “cabruca”, dessa forma
proporcionou uma manutenção parcial da floresta, sendo, entretanto, a única
forma de cultivo agropecuário no Brasil que preservou parte da mata. Para o
cultivo do cacau, os fazendeiros retiraram o sub-bosque da mata e mantiveram
seu dossel. É comum observar nessas matas, exemplares de jequitibás-rosa,
cedros, figueiras, sapucaias e outras árvores de porte majestoso, remanescentes
da mata original.
A mata original, primária, encontra-se dentro das reservas
retro citadas, Sooretama e Vale. Formam um bloco vegetal compacto de uns 50.000
hectares, se forem adicionadas matas particulares do entorno como a Fazenda Cupido.
Esse bloco magnifico é riquíssimo em aves conforme já vimos em várias ocasiões.
Algumas espécies notáveis são encontradas nesse bloco, e citamos algumas apenas
a título de ilustração: o Cricrió Lipaugus vociferans, a Harpia Harpia
harpyja, o Urutau-de-asa-branca Nyctibius leucopterus. No meio de
uma avifauna muito rica, citamos apenas três. Então, vem a curiosidade: quais dessas
espécies da mata original ainda habitariam a mata alterada da cabruca do Rio
Doce? Não temos a pretensão de responder a esse questionamento tão complexo, mas, uma das finalidades de nossa excursão era em uma pequena parte, respondermos a essa pergunta. E voltaremos em
Julho para completar nossa pesquisa.
Antes de começar a falar sobre nossa excursão, vamos nos
lembrar da tragédia ambiental ocorrida em novembro de 2015 e da qual, a bacia
do Rio Doce ainda não se recuperou. Entretanto, somos otimistas e ficamos
encantados com a beleza do rio e a aparente limpeza de suas águas. A
recuperação pode já ter começado.
Localização do Espirito Santo no Brasil.
Localização das áreas de observação dentro do Estado do ES. Fizemos um comparativo da distância entre as matas do Rio Doce e o grande bloco florestal das reservas Sooretama/Vale, mais ao norte.
Pelo menos em uma pequena parte, conseguimos responder nossa pergunta de Observador de Aves. Localizamos duas espécies de Psitacídeos vivendo muito bem dentro dessa área de matas secundárias. Matas estas, que é bom lembrar, estão sendo exploradas economicamente com a cultura do Cacau. Essas duas espécies de aves, são consideradas como ameaçadas pois dependem muito da manutenção da vegetação florestal da mata atlântica para sua sobrevivência.
O Rio Doce foi quase totalmente poluído com a tragédia de Mariana em novembro de 2015, mas já apresenta melhoras. Notar o aspecto de suas águas, já mais limpas. Fomos informados que muitos peixes já estão reaparecendo.
A estrada de terra até a localidade de Povoação, tem 35 Km de extensão percorrendo a região de plantio do cacau sombreado chamado de "cabruca".
Aspecto da vegetação ribeirinha. As árvores ficam engrinaldadas pela bromelia conhecida como
barba de velho. Muito frequente em nossas matas, principalmente em locais húmidos.
Um exemplar jovem do Jequitibá rosa Cariniana legalis.
Pyrrhura leucotis, a Tiriba de orelha branca é endêmica do Brasil, na região de matas atlânticas da Bahia até o Rio de Janeiro. É considerada como NT - nova ameaçada pelo IUCN. Portanto, é uma espécie sensível ao desmatamento. Sua ocorrência em matas secundárias como essas das margens do rio Doce é auspiciosa para a preservação da espécie.
Chegamos a registrar um bando de tamanho grande, cerca de 20 indivíduos dessa tiriba.
Pyrrhura cruentata é outra Tiriba do Rio Doce, ameaçada de extinção. Está na categoria de VU da IUCN, mais ameaçada ainda que a Tiriba de orelha branca e para nossa sorte. pudemos ver 03 (três) bandos dessa tiriba em nossa excursão. O primeiro bando de 4 exemplares e mais dois bandos grandes, de uns 20 ou 30 indivíduos.
Tentamos, mas não foi possível mostrar todas Tiribas grande Pyrrhura cruentata da árvore nessa foto!
Impressionante a abundancia dos Psitacídeos do Rio Doce! Registramos em apenas um dia as seguintes espécies:
1- Papagaio Chauá, Amazona rodocorytha.
2- Papagaio Curica, Amazona amazônica.
3- Papagaio moleiro, Amazona farinosa
4- Tiriba grande, Pyrrhura cruentata.
5- Tiriba-de-orelha-branca, Pyrrhura leucotis.
6- Maitaca-de-barriga-azul, Pionus reichenowi.
7- Periquitão-maracanã, Psittacara leucophthalmus.
8- Periquito-Rei, Eupsittula aurea.
9- Periquito-rico, Brotogeris tirica
Comprovando tal fato, uma foto que mostra a incrível abundancia de um desses psitácidas, no caso, o Periquito-rei:
Muito obrigado aos amigos e amigas que nos visitam!
José Silvério Lemos.