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sexta-feira, 30 de março de 2018

Dryocopus lineatus : o Pica-pau de banda branca

Páscoa em Sobreiro, município de Laranja da Terra, ES. Tem chovido bem neste 2018! e o resultado é a recuperação de campos e florestas! e os bichos agradecem! Então, um pequeno  post  sobre um de nossos mais  belos  pica-paus:



























Dryocopus lineatus, é um pica-pau de bom tamanho, 33 cm. e um dos mais encontradiços.

Dos grandes  Pica-paus, Esse é um dos que mais chamam a atenção. Produz batidas violentas nos troncos a fim de desalojar os insetos e na época de reprodução produz uma interessante musica instrumental ao bater com o bico nos troncos, provocando um tamborilar que pode ser interpretado  como: Tórrrrrrr...torrr...
Habita todo o Brasil e apesar de ser uma ave florestal, também pode ser encontrado em campos cultivados e beira de florestas secundárias. Tanto na borda quanto no interior da mata. Não está ameaçada de extinção e não é rara. Curiosidade é que além dos insetos, seu alimento principal, gosta também de frutas como o abacate e bananas. Por vezes chega até  os comedouros de aves onde se encontram frutas como bananas e abacates.


Esse individuo, um macho, o mesmo fotografado acima, chegou a empoleirar-se em uma bananeira!













Faremos algumas postagens  sobre essa Páscoa  no interior mais à frente. Obrigado amigas e amigos que nos visitam!


quarta-feira, 21 de março de 2018

o "PÁSSARO BOI"


Já disse e repito que sou apaixonado pelas aves da família COTINGIDAE ! São maravilhosos e incríveis!  E entre esses seres espetaculares, todos eles, entre os já conhecidos, tem um que me perturbou! KKKK, isto mesmo! Fiquei embasbacado  com o Maú!





























Perissocephalus tricolor : O Maú, quando fotografei em Pres. Figueiredo, AM.


Trata-se de um "figurão" habitante dos cafundós da mata amazônica! Um matuto mesmo! Caipirão que detesta chamar a atenção e gosta de ficar bem escondido. Infelizmente para ele, não consegue passar despercebido! Perambula pela mata alta amazônica, dizem que é solitário, porém o vimos em um pequeno grupo e  um deles ficou de  sentinela olhando tudo ao redor.

Seu canto é simplesmente uma obra de arte! Se não estivéssemos no fundo da floresta amazônica, poderia se dizer que estávamos em uma fazenda de gado. Mas boi ali dentro? impossível! a Onça (jaguar Panthera onca) pega e come! Ouçam no link abaixo a voz do Maú, Gravação de Marco Aurélio Silva e depositado no WikiAves:
http://www.wikiaves.com.br/165621&p=1&tm=s&t=s&s=11390

Entenderam porque tem o apelido de "Pássaro-Boi"? 

Pois é, felizmente esse extraordinário COTINGA não está ameaçado e é listado ´pela IUCN como PP, Pouco preocupante!

É uma espécie de bom tamanho, com o macho medindo 36 cm. e pesando em média 360 gramas, sendo as fêmeas um pouco menores!




Minha esposa, Aninha Delboni, conseguiu essa foto olhando bem debaixo do poleiro onde um dos Maús pousaram! O curioso é que reproduzimos o canto da ave algumas vezes mas ele não olhou para baixo de jeito nenhum. Sempre procurava no nível de seus olhos.







O Maú se alimenta principalmente de frutos mas adiciona alguns insetos grandes em sua dieta (wikiAves).



Distribuição dos registros do Perissocephalus no Brasil. Ele ocorrre unicamente na Amazônia ao norte do Rio Amazonas. Mas existe também nas Guianas, na Colômbia e no leste da Venezuela.

FONTE DO MAPA:

http://www.wikiaves.com.br/mau.













O MAÚ, é um dos grandes e incríveis cotingas amazônicos. Tem vários que se sobressaem, seja pelo porte, pelos hábitos, pela beleza, pelo vozear impressionante. Cito alguns que tenho de conhecer enquanto estiver por aqui: o Anambé Preto Cephalopterus ornatus, o espetacular Amazonian Umbrellabird. O Anambé Pombo Gymnoderus foetidus. A araponga da Amazônia Procnias alba entre outros!
Agradeço às pessoas que nos visitam! Recomendo que conheçam a Amazônia e quem sabe, conhecer o Maú, esse simpático e original habitante do interior da floresta amazônica!








domingo, 18 de março de 2018

Procurando Touit melanonotus



O  Apuim de costas pretas, Touit melanonotus não é ave desconhecida para este observador! Já o conheço há muitos anos, mesmo da época em que não fotografava, apenas via com o binóculo!

A fruta madura da Clusia que  os Touit procuram viajando longe para isso! Talvez a espécie seja a Clusia lanceolata.





























A fruta da Clusia, madura e aberta! OS bichos se alimentam dessas partes vermelhas avidamente. Ficamos curiosos quanto ao sabor! Mas acreditem: nada tem de interessante, sendo muito acida! 




Foto do Apuim de costas pretas, feita em março de 2015 no Parque Estadual PCV em Guarapari.


A ave é assídua frequentadora das árvores da Clusia, muito abundantes nas matas baixas da restinga e que nessa época do ano, março/abril, entregam suas frutas abundantes e maduras. Não apenas os Touit apreciam esse banquete. Outras aves também.!




A vegetação de restinga é um cordão arenoso rente ao mar. E as maiores árvores, dentro da mata, chegam a uns 20 m. de altura, mas as árvores da Clusia são menores, alcançam, creio uns 15 metros e são muito abundantes na restinga de Guarapari.



E estão pejadas  dos frutos, essas bolotas verdes que pode-se ver aí na foto ao lado. Mas, cadê os Apuins?


Procuramos os danadinhos, para provar definitivamente que seus movimentos seguem a frutificação dessas árvores. E eles até chegaram perto. Ouvimos seu canto "tilintado" nas proximidades mas não chegaram perto onde estávamos!




Então, sem fotografar os Apuins. prestamos atenção em outras aves. Algumas frugivoras e até nectarívoras!


Tangara brasiliensis é outras das saíras beldades das nossas matas. Destaque que prefere as matas da baixada litorânea sendo muito comum na restinga.

E, com nosso verão abafado e muito bravo, temperaturas de 30-35 graus todo dia, tem chovido bastante! As famosas águas de março bem que tentam empurrar esse calor para cima mas ele teima em ficar por aqui! E então, a restinga está entregando aos bichos uma infinidade de frutas silvestres e selvagens! As saíras apreciam muito as pequenas goiabas selvagens conhecidas  como Araçá. Sei que é uma espécie do gênero Psidium, mas não sei qual espécie! Seu sabor é muito melhor que o da Clusia e é impossível comer  uma só!


Um dos muitos pés de Araçá Psidium attleyanum  carregado! Arbusto de até uns 3 metros de altura, comuníssimo na restinga e fornecendo farta comida para os frugívoros!












As goiabinhas do Araçá, muitos saborosas e atrativas para os bichos:




É azedinha, ácida, mas saborosa e por isso, saíras, sanhaçus, tiês e também mamíferos como sauins se aproveitam do festim!


















Mas tem muitas outros arbustos frutificando, que não conheço os nomes:




















Então, sem o Apuim, fotografamos  outros bichos, menos exigentes e mais exibidos!



O Sabiá da Praia Mimus gilvus é habitante conhecidíssimo do lugar! 
E também o Urubu de cabeça amarela  Cathartes burrovianus nos encanta com seu voo maravilhoso!

















E Finalizando, vimos um casal de Saíras-Beija-flor, perambulando pela restinga com dois filhotes. Não resistimos mais uma vez à beleza dessas aves:

Cyanerpes cyaneus indivíduo macho.

Cyanerpes cyaneus individuo fêmea!

















OBRIGADO PESSOAS QUE NOS VISITAM!  Não fotografamos o Apuim de costas pretas Touit melanonota, mas certificamos que eles apareceram no local. Só não vieram nas "nossas clusias"! É importante essa informação, posto que esse Touit é citado pela  IUCN na categoria de VU, vulnerável.
Em nossas andanças já o registramos em muitos lugares e talvez esse perigo  citado pela IUCN seja decorrência do pequeno conhecimento sobre sua biologia! Nunca o registramos como ave de gaiola ou de estimação e seus bandos quando passam cantando ( seu canto tilintado) às vezes são numerosos! Já vimos bandos de mais de 30 aves! E detalhe interessante: quando estão pousados em uma fruteira, muitas vezes a Clusia, e se estão silenciosos, NÃO se consegue distinguir esses papagainhos verdes na copa da árvore! Então, novas contagens das aves podem às vezes revelar mais otimismo!

segunda-feira, 12 de março de 2018

COMPARANDO OS CARPORNIS: melanocephala vs. cucullata

Os  COTINGAS, já falei aqui, são minhas aves prediletas! São simplesmente fascinantes e com comportamentos espetaculares. Seguindo na ola de comparações, apresento hoje, minhas notas sobre os nossos dois Carpornis:

























Carpornis melanocephala fotografado na Res. Natural da Vale em Linhares, ES, Brasil.

Começando pela beleza da plumagem. Como podemos apreciar na foto acima, eu voto que o Sabiá pimenta, o melanocephala é o mais bonito! No geral as duas plumagens são parecidas mas esse aí encima, com esse olhão vermelho, é demais! 


O C. cucullata fotografado na encosta da Serra do Caparaó, subida para o Pico da Bandeira, no município de Dores do Rio Preto, ES, Brasil.

Referindo-nos à vocalização, eu marco empate! as duas são espetaculares. No caso do Corocoxó, o apelido é claramente onomatopaico! Seu canto pode ser reproduzido como "cro-co-xó". A história nos diz que nos tempos dos tropeiros que tinham de atravessar a serra do Mar, ao chegar nas altitudes maiores, eles paravam para descansar. Os cavalos já estavam exaustos! Então, muitas vezes nessas paradas, ouviam o canto singelo da ave: Coro-có-xó! O que alguns interpretavam como "Cavalo- frouxou", em razão desses animais de carga estarem já exaustos pela subida e clamarem por descanso.

O link da voz do Coro-co-xó:

http://www.wikiaves.com.br/2563865&p=1&tm=s&t=u&u=2183&s=11365

A voz do Sabiá-pimenta C. melanocephala, que em alguns lugares é conhecido como "Coxó", também é espetacular, pela altissonância e beleza:

http://www.wikiaves.com.br/midias.php?tm=s&t=u&u=2183&s=11366

Quanto à ecologia de ambas as espécies, verifica-se com esses dois passeriformes o mesmo que ocorre com os tropeiros Lipaugus. Suas preferências ecológicas são bem distintas,porém, ambos vivem dentro da mata alta. São aves exclusivamente florestais e, pelo visto não são muito adeptos de matas degradadas. Mesmo que sejam matas secundárias, precisam ser matas altas para hospeda-los. O Coro-co-xó, C.cucullata é ave das matas montanhosas de altitude. Podemos dizer que no Estado do Esp. Santo ele aparece a partir da cota altimétrica de cerca de 600 m. Já o C.melanocephala  é exatamente o contrário. Vive nas matas da baixada de boa extensão e em ótimo estado de conservação em altitudes de 0 a 600 m.
Ambos constam com algum grau de ameaça. Por viverem exclusivamente em matas altas, estão ameaçados pela destruição dessas matas. C. melanocephala está listada na categoria de VU- vulnerável na lista da IUCN. Isso pode ser explicado pela maior degradação da floresta da baixada litorânea, que vem desde a época do descobrimento. Outros detalhes ajudam nessa ameaça. Naturalmente não são aves comuns! Ambos são passeriformes sub-oscines e como tal, são aves que não são adaptáveis a mudanças radicais em seu habitat! Em nossas andanças, notamos que C.melanocephala, habitante das matas da Reserva de Duas Bocas, pode ser encontrado mais ou menos nos mesmos lugares há bastante tempo. Tem locais que a ave vocaliza há mais de 20 anos! e também observamos na época da reprodução, a distância entre machos cantores dentro da mata é de cerca de 500 metros um do outro! Já C.cucullata está listado como NT- quase ameaçada, situação um degrau melhor que seu congenere. Fatores geográficos também ajudam a explicar: as matas da encosta serrana estão em melhores condições devido a maior dificuldade de aproveitamento agrícola, além de serem melhor protegidas pelo Código Florestal. E detalhe interessante: nas regiões serranas, a distância entre os remanescentes florestais é bem menor que na baixada. Resulta daí, que o Corocoxó possui a sua disposição corredores florestais maiores e abertos, propiciando seu maior deslocamento. Isso ajuda muito a mitigar a retirada das florestas. Talvez em razão disso o Corocoxó seja mais registrado que o Sabiá-pimenta. O Sabiá-pimenta tem 341 registros no WA e o Corocoxó 1.538 registros! Vejamos o mapa de registros do Wikiaves:


Mapa de registros de C.melanocephala: nesta data, são apenas 341 registros.




















C. cucullata: mapa do WikiAves, totalizando 1.538 registros nesta data. Essa ave é de clima mais ameno, de regiões serranas. no ES, dos 600 até quase os 2.000 metros no Pico da Bandeira.















Foto feita em Mata Fria, município de Afonso Cláudio, ES, Brasil. A uns 700 m. de altitude, nesse local existem muitas matas secundárias de altitude, fragmentadas mas próximas umas às outras, o que garante boa população do Corocoxó e outras aves serranas como por exemplo, o Tropeiro da serra!





Foto feita no município de Castelo, ES, Brasil. Há cerca de 1.000 metros de altitude, o Corocoxó vocalizava ao lado do Tropeiro da Serra e da Araponga Procnias nudicollis.












Foto feita na Estrada marginal da Reserva de Duas Bocas em Cariacica, ES, Brasil. No local existem uns 5.000 hectares de mata alta em ótimo estado de conservação. Sabemos da existência do C.melanocephala nessas matas desde 1987! E até hoje podemos ouvir essa ave quase nos mesmos locais de antigamente! Tem o lado positivo de que a ave conseguiu sobreviver na área, não se extinguiu e está com população estável. 

Resumindo: ambos são COTINGAS ENDÊMICOS  da Mata Atlântica do Brasil! Carpornis cucullata está em situação melhor quanto à conservação e possibilidades de sobrevivência!  Mas também Carpornis melanocephala deve conseguir sobreviver baseado no fato de que suas ultimas reservas são protegidas e seus hábitos territoriais acabam protegendo-o dentro da mata, já que é ave arredia e não se afasta da mata protetora.
Até hoje, não se tem referencias sobre a nidificação desses dois cotingas. Não sabemos de quantos ovos são as posturas e quantas vezes as aves nidificam por ano! e nada também sobre os ninhos, sua localização ou materiais usados!

Agradecemos as pessoas que nos honram com suas visitas!


quinta-feira, 8 de março de 2018

COMPARANDO TROPEIROS: Vociferans vs. Lanioides.

A família COTINGIDAE é uma das mais características e impressionantes entre os Passeriformes do Novo Mundo. Todo birder tem uma família de aves predileta e no meu caso particular, confesso que os Cotingas me fascinam. Todas AS AVES dessa família são especiais! Como não se encantar com a bizarrice do Anambé Pombo Gymnoderus foetidus ou a majestade do Anambé-preto, Cephalopterus ornatus?, o famoso Umbrellabird ? e o que dizer das vozes das Arapongas? E os desconfiados e arredios Tropeiros?





O Cricrió, que na região de Linhares é conhecido como Tropeiro, Lipaugus vociferans, fotografado dentro da Reserva Florestal da Vale em Linhares-ES.

Neste artigo, vamos analisar dados e aspectos de dois tropeiros, o Cricrió e o Tropeiro da Serra Lipaugus lanioides.

Os estados da Bahia e Espirito Santo, possuem o privilégio de contar com registros das duas espécies em seu território.  O Cricrió, Lipaugus vociferans, tem esse nome latino com uma alusão à sua voz fortíssima e tipica, da qual, Cricrió é apenas um apelido onomatopéico. De fato, sua voz está entre as vozes mais altissonantes na classe Aves e pode ser ouvida a longa distância. É ainda considerada como "A voz da Amazônia" no dizer de Sick (1985). Sua voz é realmente típica da bacia amazônica onde pode ser ouvida em quase todas as matas. Dessa forma, é um balsamo, ouvir sua voz também na mata atlântica! Como ouvimos nas matas do baixo Rio Doce, nas reservas da Vale e de Sooretama. Ocorrendo também nas matas do sul da Bahia. Cotingas são aves extraordinárias, com comportamentos muito especiais! Sobre o Cricrió, o Vociferans, Olivério Pinto, que pode ser considerado como o "pai da Ornitologia do Brasil", disse: È esse um pássaro exclusivo do interior da mata, onde frequenta de preferência seus locais mais sombrios e úmidos". De fato,no Estado do Espirito Santo, essa ave já foi registrada apenas em matas extensas, primárias do platô terciário, as "matas de tabuleiro" tão parecidas com a floresta amazônica! Nas reservas de Sooretama, Vale e na Fazenda Cupido e Refúgio. Nós já nos referimos a essas matas e sua semelhança com a Amazonia. Vide:http://www.jornaldasavesepeixes.net/2015/01/amazonia-em-linhares-es.html



A distribuição dos registros de Lipaugus vociferans, o Cricrió. Segundo o WIKIAVES: www.wikiaves.com.br 

Podemos ver que a esmagadora maioria dos registros de Vociferans estão na Amazônia. os registros da mata atlântica são menores e encontram-se na região das matas de tabuleiros.












Todos os registros do Cricrió mostram a ave dentro da floresta. Confirmando a assertiva de Olivério Pinto de que trata-se de ave exclusivamente florestal. Ele ainda vive nas matas remanescentes do platô terciário na Mata atlântica, mas não temos como avaliar ainda o grau de ameaça que enfrenta nesse bioma. Na reserva da vale, onde já o registramos por muitas vezes, observa-se que é ave do interior da reserva. Não é registrado nas bordas. É preciso viajar alguns kilometros mata adentro para se começar a ouvir seu canto tão melodioso como característico. É lindo ouvi-los em grupo. Um grita próximo e muitos respondem ao longe ou mesmo perto de nós. Se se faz barulho alto nas árvores, aí é que o capitão do mato se alvoroça todo e responde em muitos lugares.



O Tropeiro da Serra, Lipaugus lanioides possui essa apelido pelo fato de ser muito parecido com o Cricrió, apenas é maior,  mede cerca de 28 cm. enquanto o Cricrió tem 24 cm. Mas, também, pela profunda diferença ecológica entre os dois: Enquanto Vociferans é um habitante das matas quentes da baixada, o Lanioides prefere as serras da mata atlântica, de clima mais ameno. Além disso, o Tropeiro da serra possui algumas diferenças de comportamento: já foi registrado até mesmo em plantações de eucaliptos próximos à mata atlântica. Pode ser registrado nas bordas da floresta e pelo menos aparentemente não apresenta estar em declínio populacional. Mas, a IUCN entende que a ave está ameaçada e lhe coloca na categoria NT, que significa como "Quase ameaçada", ao contrario do Cricrió que está como "pouco preocupante". Talvez devido a que o Tropeiro seja uma ave da Mata Atlântica, bioma que desde 1500 sofre com o desmatamento e hoje em dia essa ave viva na maioria das vezes em Reservas. Porém, na região serrana do ES, quase sempre a registramos em matas secundárias de propriedades privadas. Dessa forma, o sentimento que temos é que o Tropeiro, por aparentar ser mais solitário mas muito espalhado dá mostras de ser menos ameaçado. O queremos dizer, é que com o grau de fragmentação da mata atlântica, mesmo assim, o Tropeiro possui populações em muitos remanescentes de matas, alguns até pequenos. Isso não ocorre com o Cricrió! Se não for uma mata extensa, não tem Cricrió. E o detalhe, talvez pela sua biologia o Cricrió necessite mesmo de uma mata mais extensa. Lipaugus vociferans é uma espécie social, onde os machos se reúnem para realizar as cerimônias de lek para acasalamento. O Lipaugus lanioides não possui esse hábito, o que talvez o faça menos exigente em relação ao tamanho da mata. O processo de acasalamento dos Cricriós, com  os machos se reunindo em grupos de 4-10 indivíduos para a cerimônia de lek exige naturalmente matas maiores para abrigar populações maiores.


 Tropeiro da Serra fotografado na localidade de Barra encoberta, município de Itarana no Espirito Santo. Observar que a ave estava cantando. O canto dessa ave é tido pelos populares como prenuncio de chuva.

Tropeiro da Serra no município de Domingos Martins. 

No Estado do Espirito Santo, o Cricrió já foi registrado em apenas dois municípios. Mas o Tropeiro da Serra, o foi em nove municípios. todas na região serrana, acima de 500m. de altitude.










O mapa de distribuição do Tropeiro da Serra Lipaugus lanioides. Segundo o WIKI AVES: www.wikiaves.com.br

Observar que esse Tropeiro é uma ave endêmica da mata atlântica do Leste do Brasil, onde habita em regiões de altitude acima dos 500 m. E sua distribuição é mais restrita, mas mais concentrada que o Cricrió.

No WA, temos, nesta data, 627 registros do lanioides. Os registros do L.vociferans alcançam  172 na mata atlântica e 488 na Amazônia.

Obrigado as pessoas que nos visitam. Lembrando que essas comparações tem apenas o desejo de apreciar aspectos diferentes das vidas desses pássaros, tão interessantes como amados!







segunda-feira, 5 de março de 2018

COMPARANDO JAPUS: Decumanus e Angustifrons.

Japus são aves florestais, espalhafatosas, que viajam pela floresta alta em grupos. São aves onívoras,se alimentam de tudo que encontram pela frente: frutas, insetos,etc. São os representantes da família ICTERIDAE, conhecidos como os "icterídeos grandes", oscines exclusivos do continente americano. Das partes tropicais e subtropicais da América.































O Japu Psarocolius decumanus, fotografado em Chaves, Santa Leopoldina, ES.


Habitam a mata e voam pesadamente. Japus ocorrem no continente americano, desde o Panamá até o norte da Argentina na província de Missiones, onde, entretanto, encontra-se bastante escasso. Estão entre os maiores passeriformes do continente. Os machos são maiores que as fêmeas e no caso do P.decumanus, o macho atinge cerca de 48 cm. Aves gregárias, japus "dão logo na vista" onde se encontram, devido primeiro a seu porte avantajado, mas também graças a seu comportamento muito gregário e ao barulho que produzem na mata.


A Espécie mais comum, com maior distribuição geográfica, e maior facilidade de visualização e registro é sem dúvida o Japu P. decumanus. Chamado simplesmente de "japu", também tem os apelidos de "Japu-gamela" (Bahia) "Fura-banana" (Minas Gerais) "João-Congo (Goiás e MT). Também el alguns locais atende pelos apelidos de "Rei-congo" e "Japu-Guaçu". Praticamente ocorre no Brasil todo, com excessão do Rio Grande do Sul e da parte mais agreste do Nordeste:


DISTRIBUIÇÃO DO JAPÚ Psarocolius decumanus
 Registros segundo o WIKIAVES: http://www.wikiaves.com.br/japu



Esse japu não está ameaçado de extinção e pode ser encontrado facilmente em florestas tanto secundárias quanto primárias. Porém, notamos que é bem mais frequente em matas secundárias. Aqui no ES, notamos que a ave tem especial predileção pelas matas de encostas serranas. Nesses locais costumam pendurar seus ninhos em colônias. Algumas bem grandes, com 30-40 ninhos que ficam balançando ao vento.

Ver uma árvore altaneira tomada pelos ninhos de japus, as longas bolsas que a ave usa para nidificar, é um dos espetáculos mais bonitos de nossas matas. Esses ninhos, algumas vezes, possuem um metro de comprimento! Geralmente a ave costuma fazer três posturas de 2 ovos  por temporada reprodutiva que tem inicio geralmente em Agosto e indo até Dezembro/Janeiro. Outro lindo espetáculo proporcionado pelos japus, é á tardinha, pouco antes do anoitecer, quando o grupo, sob o comando de um líder alça voo alto em direção ao local de dormida, o pouso coletivo. Nessas ocasiões podemos ver de binóculo, bem no alto as penas amarelas da cauda dos japus se destacando!




Uma colônia pequena com ninhos do P. decumanus fotografada na encosta da Res. Florestal de Duas Bocas, município de Cariacica-ES.



Mesmos sendo uma ave florestal, o Japu muitas vezes é encontrado em locais de capoeiras ralas. Gosta de florestas altas mas ocorre em regiões de cerrado, com matas mais baixas. Pelo mapa de distribuição dos registros do WikiAves pode se perceber que é ave com muitos registros e bastante frequentes.

A beleza do Japu voando.
O Japu atrai logo a atenção devido a seu tamanho e sua longa cauda amarela que caracteriza todas espécies de japus.
Detalhe importante é que não são caçados e nem costumam ser engaiolados  como "cage-birds".

Uma colônia pequena de Japus, em Chaves, município de Santa Leopoldina no ES. Essas aves gostam muito de usar os palmitos e outras Palmae para pendurar seus ninhos.

O Japu chaga a habitar dentro ou na periferia de algumas cidades grandes. É o caso, p.ex. de Manaus no Amazonas onde é considerada como uma ave urbana. Mas já vimos colonia de japus também no campus da UFMG em Belo Horizonte-MG e é registrado também em Fortaleza-CE.
Individuo registrado em Sobreiro, mun. Laranja da Terra, em região de capoeiras e poucas matas secundárias.


Já o Japu-pardo Psarocolius angustifrons é uma espécie Amazônica registrada na parte ocidental da Amazônia.  Até o momento não temos registro para o Pará, apenas Amazonas e Acre.

Mapa de distribuição de registros de P. angustifrons segundo o Wiki Aves.

Observar  que a distribuição do Japu-Pardo é bem mais restrita que o P. decumanus. Conhecemos o Japu pardo recentemente, em Março de 2017 quando de nossa excursão à Amazônia. Registramos a espécie em vários locais, sempre próxima a margens de grandes rios. Parece ser espécie menos abundante que o Japu comum.


Colônia de Japus pardos fotografada em  27-3-2017 no município de Iranduba-AM. Achamos curioso que a ave ainda encontrava-se com filhotes no final do mês de março.

Também observamos que esse Japu pardo é bem mais dependente da mata que o japu comum. Ele até pode construir uma colônia na borda da mata, mas sua vida está intimamente ligada à mata, onde tem suas atividades sociais e onde forrageia.





Individuo levando comida para  os filhotes em Iranduba. 27-3-2017.















                                                      Repetindo     os hábitos do decumanus, o angustifrons também aprecia colocar colônias pequenas de ninhos em árvores de palmito. Essa colônia abaixo mostra os ninhos pendurados nas pínulas da palmeira. Notar que os  ninhos do pardo são menos compridos que o decumanus. Inclusive o pardo é menor em tamanho, com os machos alcançando  43 cm., portanto 5 cm. menos que o japu comum.                                                                                                              

                                                                                                                                                                
  Individuo de Japu pardo pousada em uma imbaúba na localidade de Iranduba-AM em Março de 2017.

Ambas as espécies  possuem vocalizações melodiosas e altissonantes. Mas a voz do pardo é mais firme e alta. Porém, a vocalização do decumanus é mais harmoniosa e musical.

Essa comparação tem o intuito apenas de ressaltar aspectos curiosos das duas espécies. Sabemos que é impossível comparar espécies diferentes, mesmo que pertencentes à mesma família e com muitas similitudes como é o caso dos Japus. O Birder encontra nesses detalhes e comparações, um passatempo agradável e que o leva a pesquisar detalhes da biologia das espécies. Isso pode levar a um aumento do conhecimento da ave estudada, mais tarde incorporados por biólogos e outros especialistas.
Quanto ao aspecto conservacionista, entendemos que o P. decumanus está menos ameaçado que seu primo P. angustifrons! Evidentemente, e ainda bem, que nenhuma das duas espécies corre perigo de extinção, mas a situação do decumanus é melhor. É mais abundante, tem área de distribuição muito maior, parece ser mais adaptável a alterações antrópicas na mata e em seu entorno. Já se sabe que o Japu comum, talvez por ser mais bem estudado, faz três posturas  por ano. Não sabemos ainda, qual a situação do Japu pardo. Imaginamos que deve, também, fazer duas ou três posturas. Corrobora com isso o fato de termos encontrado a espécie no final de março ainda nidificando e com filhotes em seus ninhos de bolsa!


AGRADECEMOS AS PESSOAS  QUE NOS HONRAM COM SUAS VISITAS!