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quinta-feira, 8 de março de 2018

COMPARANDO TROPEIROS: Vociferans vs. Lanioides.

A família COTINGIDAE é uma das mais características e impressionantes entre os Passeriformes do Novo Mundo. Todo birder tem uma família de aves predileta e no meu caso particular, confesso que os Cotingas me fascinam. Todas AS AVES dessa família são especiais! Como não se encantar com a bizarrice do Anambé Pombo Gymnoderus foetidus ou a majestade do Anambé-preto, Cephalopterus ornatus?, o famoso Umbrellabird ? e o que dizer das vozes das Arapongas? E os desconfiados e arredios Tropeiros?





O Cricrió, que na região de Linhares é conhecido como Tropeiro, Lipaugus vociferans, fotografado dentro da Reserva Florestal da Vale em Linhares-ES.

Neste artigo, vamos analisar dados e aspectos de dois tropeiros, o Cricrió e o Tropeiro da Serra Lipaugus lanioides.

Os estados da Bahia e Espirito Santo, possuem o privilégio de contar com registros das duas espécies em seu território.  O Cricrió, Lipaugus vociferans, tem esse nome latino com uma alusão à sua voz fortíssima e tipica, da qual, Cricrió é apenas um apelido onomatopéico. De fato, sua voz está entre as vozes mais altissonantes na classe Aves e pode ser ouvida a longa distância. É ainda considerada como "A voz da Amazônia" no dizer de Sick (1985). Sua voz é realmente típica da bacia amazônica onde pode ser ouvida em quase todas as matas. Dessa forma, é um balsamo, ouvir sua voz também na mata atlântica! Como ouvimos nas matas do baixo Rio Doce, nas reservas da Vale e de Sooretama. Ocorrendo também nas matas do sul da Bahia. Cotingas são aves extraordinárias, com comportamentos muito especiais! Sobre o Cricrió, o Vociferans, Olivério Pinto, que pode ser considerado como o "pai da Ornitologia do Brasil", disse: È esse um pássaro exclusivo do interior da mata, onde frequenta de preferência seus locais mais sombrios e úmidos". De fato,no Estado do Espirito Santo, essa ave já foi registrada apenas em matas extensas, primárias do platô terciário, as "matas de tabuleiro" tão parecidas com a floresta amazônica! Nas reservas de Sooretama, Vale e na Fazenda Cupido e Refúgio. Nós já nos referimos a essas matas e sua semelhança com a Amazonia. Vide:http://www.jornaldasavesepeixes.net/2015/01/amazonia-em-linhares-es.html



A distribuição dos registros de Lipaugus vociferans, o Cricrió. Segundo o WIKIAVES: www.wikiaves.com.br 

Podemos ver que a esmagadora maioria dos registros de Vociferans estão na Amazônia. os registros da mata atlântica são menores e encontram-se na região das matas de tabuleiros.












Todos os registros do Cricrió mostram a ave dentro da floresta. Confirmando a assertiva de Olivério Pinto de que trata-se de ave exclusivamente florestal. Ele ainda vive nas matas remanescentes do platô terciário na Mata atlântica, mas não temos como avaliar ainda o grau de ameaça que enfrenta nesse bioma. Na reserva da vale, onde já o registramos por muitas vezes, observa-se que é ave do interior da reserva. Não é registrado nas bordas. É preciso viajar alguns kilometros mata adentro para se começar a ouvir seu canto tão melodioso como característico. É lindo ouvi-los em grupo. Um grita próximo e muitos respondem ao longe ou mesmo perto de nós. Se se faz barulho alto nas árvores, aí é que o capitão do mato se alvoroça todo e responde em muitos lugares.



O Tropeiro da Serra, Lipaugus lanioides possui essa apelido pelo fato de ser muito parecido com o Cricrió, apenas é maior,  mede cerca de 28 cm. enquanto o Cricrió tem 24 cm. Mas, também, pela profunda diferença ecológica entre os dois: Enquanto Vociferans é um habitante das matas quentes da baixada, o Lanioides prefere as serras da mata atlântica, de clima mais ameno. Além disso, o Tropeiro da serra possui algumas diferenças de comportamento: já foi registrado até mesmo em plantações de eucaliptos próximos à mata atlântica. Pode ser registrado nas bordas da floresta e pelo menos aparentemente não apresenta estar em declínio populacional. Mas, a IUCN entende que a ave está ameaçada e lhe coloca na categoria NT, que significa como "Quase ameaçada", ao contrario do Cricrió que está como "pouco preocupante". Talvez devido a que o Tropeiro seja uma ave da Mata Atlântica, bioma que desde 1500 sofre com o desmatamento e hoje em dia essa ave viva na maioria das vezes em Reservas. Porém, na região serrana do ES, quase sempre a registramos em matas secundárias de propriedades privadas. Dessa forma, o sentimento que temos é que o Tropeiro, por aparentar ser mais solitário mas muito espalhado dá mostras de ser menos ameaçado. O queremos dizer, é que com o grau de fragmentação da mata atlântica, mesmo assim, o Tropeiro possui populações em muitos remanescentes de matas, alguns até pequenos. Isso não ocorre com o Cricrió! Se não for uma mata extensa, não tem Cricrió. E o detalhe, talvez pela sua biologia o Cricrió necessite mesmo de uma mata mais extensa. Lipaugus vociferans é uma espécie social, onde os machos se reúnem para realizar as cerimônias de lek para acasalamento. O Lipaugus lanioides não possui esse hábito, o que talvez o faça menos exigente em relação ao tamanho da mata. O processo de acasalamento dos Cricriós, com  os machos se reunindo em grupos de 4-10 indivíduos para a cerimônia de lek exige naturalmente matas maiores para abrigar populações maiores.


 Tropeiro da Serra fotografado na localidade de Barra encoberta, município de Itarana no Espirito Santo. Observar que a ave estava cantando. O canto dessa ave é tido pelos populares como prenuncio de chuva.

Tropeiro da Serra no município de Domingos Martins. 

No Estado do Espirito Santo, o Cricrió já foi registrado em apenas dois municípios. Mas o Tropeiro da Serra, o foi em nove municípios. todas na região serrana, acima de 500m. de altitude.










O mapa de distribuição do Tropeiro da Serra Lipaugus lanioides. Segundo o WIKI AVES: www.wikiaves.com.br

Observar que esse Tropeiro é uma ave endêmica da mata atlântica do Leste do Brasil, onde habita em regiões de altitude acima dos 500 m. E sua distribuição é mais restrita, mas mais concentrada que o Cricrió.

No WA, temos, nesta data, 627 registros do lanioides. Os registros do L.vociferans alcançam  172 na mata atlântica e 488 na Amazônia.

Obrigado as pessoas que nos visitam. Lembrando que essas comparações tem apenas o desejo de apreciar aspectos diferentes das vidas desses pássaros, tão interessantes como amados!







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