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quinta-feira, 16 de abril de 2020

O BEM TE VI GAGO!

História de bem-te-vi
                                                                       Cecília Meireles
Com estas florestas de arranha-céus que vão crescendo, muita gente pensa que passarinho é coisa só de jardim zoológico; e outras até acham que seja apenas antiguidade de museu. Certamente chegaremos lá; mas por enquanto ainda existem bairros afortunados onde haja uma casa, casa que tenha um quintal, quintal que tenha uma árvore. Bom será que essa árvore seja a mangueira. Pois nesse vasto palácio verde podem morar muitos passarinhos.
Os velhos cronistas desta terra encantaram-se com canindés e araras, tuins e sabiás, maracanãs e “querejuás todos azuis de cor finíssima…”. Nós esquecemos tudo: quando um poeta fala num pássaro, o leitor pensa que é leitura…
Mas há um passarinho chamado bem-te-vi. Creio que ele está para acabar.
E é pena, pois com esse nome que tem — e que é a sua própria voz — devia estar em todas as repartições e outros lugares, numa elegante gaiola, para no momento oportuno anunciar a sua presença. Seria um sobressalto providencial e sob forma tão inocente e agradável que ninguém se aborreceria.
O que me leva a crer no desaparecimento do bem-te-vi são as mudanças que começo a observar na sua voz. O ano passado, aqui nas mangueiras dos meus simpáticos vizinhos, apareceu um bem-te-vi caprichoso, muito moderno, que se recusava a articular as três sílabas tradicionais do seu nome, limitando-se a gritar: “…te-vi! …te-vi”, com a maior irreverência gramatical. Como dizem que as últimas gerações andam muito rebeldes e novidadeiras achei natural que também os passarinhos estivessem contagiados pelo novo estilo humano.
Logo a seguir, o mesmo passarinho, ou seu filho ou seu irmão — como posso saber, com a folhagem cerrada da mangueira? — animou-se a uma audácia maior Não quis saber das duas sílabas, e começou a gritar apenas daqui, dali, invisível e brincalhão: “…vi!  …vi! …vi! …” o que me pareceu divertido, nesta era do twist.
O tempo passou, o bem-te-vi deve ter viajado, talvez seja cosmonauta, talvez tenha voado com o seu team de futebol — que se não há de pensar de bem-te-vis assim progressistas, que rompem com o canto da família e mudam os lemas dos seus brasões? Talvez tenha sido atacado por esses crioulos fortes que agora saem do mato de repente e disparam sem razão nenhuma no primeiro indivíduo que encontram.
Mas hoje ouvi um bem-te-vi cantar E cantava assim: “Bem-bem-bem…te-vi!” Pensei: “É uma nova escola poética que se eleva da mangueira!…” Depois, o passarinho mudou. E fez: “Bem-te-te-te… vi!” Tornei a refletir: “Deve estar estudando a sua cartilha… Estará soletrando…” E o passarinho: “Bem-bem-bem…te-te-te…vi-vi-vi!”
Os ornitólogos devem saber se isso é caso comum ou raro. Eu jamais tinha ouvido uma coisa assim! Mas as crianças, que sabem mais do que eu, e vão diretas aos assuntos, ouviram, pensaram e disseram: “Que engraçado! Um bem-te-vi gago!”
(É: talvez não seja mesmo exotismo, mas apenas gagueira…)
Texto extraído do livro Escolha o seu sonho;Rio de Janeiro:Record, 2002, pág. 53.
Publicado em CrônicasEstante de literatura | Com a tag Cecilia MeirelesCrônicas

NOTA DO BLOG: "O Bem te vi não está por acabar" não é ameaçado, é um dos pássaros mais comuns deste pais. E muito obrigado às pessoas que nos visitam!

O NEINEI, Megarynchus pitangua

O Bem-te-vi Pitangus sulphuratus é uma das aves mais comuns do Brasil. Com uma semelhança incrível, outro tiranideo, o Neinei, Megarynchus pitangua é frequentemente confundido com ele.



Neinei fotografado de minha varanda (em quarentena devido ao Coronavírus).

Pode ser observada diretamente a principal diferença para com o Bem-te-vi: seu bico muito grosso e forte, que faz que em algumas regiões do Brasil seja conhecido como "Bem-te-vi de bico grosso". 
Os hábitos das duas espécies também são parecidos, mas o Neinei é algo mais florestal.Não se expõe tanto como o Bem-te-vi. Apesar de viver também dentro de cidades, procura sempre os lugares com vegetação mais densa, com arvoredos. A maneira mais fácil de identificar as duas espécies, é com certeza o canto. Ambos são muito vocais, mas com vozes bem diferentes. O Bem-te-vi deve seu apelido a seu canto muitíssimo conhecido: "Bem-te-vi.. bem-te-vi...,bem-te-vi.....principalmente quando se reúnem em pequenos grupos nas copas das árvores e fazem suas conhecidas algazarras! Já o apelido do Neinei também tem origem onomatopaica, pois seu canto é um enjoado "Neinei...  neinei...neinei..." às vezes estridente". Também possuem outras vozes acessórias.


Ao lado, Bem-te-vi, Pitangus sulphuratus, fotografado da mesma varanda durante esta quarentena. Observar que apesar da semelhança de plumagens, o bico do Bem-te-vi é bem mais fino e delgado que o do Neinei.,
   




O neinei, mostrando nitidamente porque também é conhecido pela alcunha de Bem-te-vi de bico grosso". Esse bico do Neinei além de mais grosso também é mais chato que do do Bem te vi comum

  



Nessa foto acima, pode ser observado o bicão do Neinei, inclusive mostrando como também é achatado! Daí as alcunhas de Bem-te-vi de bico grosso e  também Bem-te-vi de bico chato.

O Neinei é uma ave onívora, se alimentando de insetos e frutinhas, mas, se tiver oportunidade, também filhotes de outras aves, pequenos lagartos, etc.

Seu comportamento é mais tímido que o do Bem-te-vi, mas também é ave comum, não estando ameaçada. É presa de gaviões que habitam o mesmo local como o Gavião carijó, Buteo magnirostris ou o Gavião de cauda curta Buteo brachyurus.

OBRIGADO  AMIGAS E AMIGOS VISITANTES!!!
                                                                                                                                                                                    
                           

segunda-feira, 6 de abril de 2020

OS GAVIÕES DA QUARENTENA DO CORONAVIRUS.

Nesses dias de quarentena devido ao perigo do Coronavírus, a solução tem sido passarinhar na varanda do apartamento. E nesse caso, sou um privilegiado pois nosso AP tem uma varanda de bom tamanho e visão para dois lados da rua no bairro. A quantidade e abundancia das aves tem surpreendido a todos do COA/ES que tem incentivado muito esse tipo de atividade durante nosso confinamento. Nesse post apresento algumas fotos do grupo de aves de rapina que registramos no AP durante esses 15 dias da quarentena! Todas as fotos foram feitas com a câmera Canon 5D Mark IV e com a lente Canon 100-400 mm IS II.


O Carcará Caracara plancus é uma ave muito comum e se adapta muito bem à zona urbana. Essa foto é de um adulto e um jovem.
Predador oportunista e muito versátil alimenta-se de uma grande variedade de alimentos, desde pequenos animais mortos até pequenas aves, lagartixas e cobras. e também ratos. Já foi visto na companhia de urubus atacando carcaça de animais mortos.







O Gavião carijó Buteo magnirostris, talvez seja o Gavião predador mais comum dentro das cidades.
Esse é um verdadeiro predador, capturando sempre presas vivas, principalmente pequenas aves. Seu comportamento de caça é tipico dos "predadores profissionais" chegando sorrateiramente próximo ao local da presa, mantendo-se oculto à espera do momento certo. Ou então, pode ficar horas empoleirado, à espera de uma oportunidade para atacar uma presa ocasional. Pode ser encontrado tanto dentro das cidades quanto dentro da mata ou capoeiras!



Se o Gavião carijó é um verdadeiro predador, matador de presas vivas, o Carrapateiro Milvago chimachima é o contrário: pode ser descrito como um gavião dócil, que faz mais barulho que ação! Seus alimentos são carrapatos que retira do lombo dos bovinos ou pequenos vermes, grandes insetos, etc. 

A foto ao lado mostra um jovem.

É uma ave muito comum, existindo dentro das cidades ou na zona rural, ausente de áreas florestais, é um gavião campestre.




O Falcão de coleira Falco femoralis é uma ave predadora campestre. É ave comum, mas na cidade é visto mais onde a cobertura vegetal é mais extensa, formando bosques ou bairros arborizados.
É um gavião loquaz e hábil caçador, principalmente de aves como rolinhas.
É um dos maiores falcões existentes no ES, perdendo em tamanho apenas para o Falcão peregrino e o Falcão de peito laranja.

É comumente registrado em nosso bairro,



Ao lado, flagrante do Falco femoralis após a captura de um pássaro e levado para antena de um prédio próximo.















O Falcão quiriquiri, Falco sparverius, também é um Falcão bastante predador. É o menor de nossos falcões e habita todo o continente americano. Mede de 21 a 30 cm. É um predador muito eficiente, capturando pequenas aves, lagartixas, cobras, ratos.
É bastante ativo e bravo em seus ataques e investidas.








É difícil ver o Gavião-de-cauda-curta, Buteo brachyurus dentro da cidade. Esse aí estava planando em frente da varanda, sobrevoando a região do canal do Rio da Passagem.

A exemplo do Gavião carijó, trata-se de um verdadeiro predador. A diferença ecológica entre esse gavião, brachyurus  e  o magnirostris é que ele gosta mais de planar em locais abertos, visualizando longe, um comportamento tipico de grandes predadores como o Gavião pega macaco Spizaetus tyrannus, ou o Gavião pato, Spizaetus melanoleucus.  Aproveita muito as correntes térmicas para alcançar grandes alturas de onde examina o terreno abaixo. Quando localiza a presa, deixa-se cair, precipitando-se a grande altura numa manobra espetacular para surpreender a vitima. É um comportamento muito usado principalmente pelo Gavião pato Spizaetus melanoleucus. Caça aves e mamíferos. Tamanho entre 35 a 45 cm. com a fêmea maior que o macho.

Muito obrigado pessoas que nos visitam!!