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quinta-feira, 22 de outubro de 2020

Nova visita: Calidris pusilla, o Maçarico rasteirinho!

 


As pedras molhadas de musgos da Ilha do Boi aqui em Vitória, capital do Estado do Espirito Santo, tem estado movimentadas nesses dias. Apesar das abundantes chuvas dessa primavera, que tem dificultado nossas viagens a outros lugares, esse local da Ilha do Boi tem recebido viajantes ilustres, que fazem viagens muito longas, até de 10.000 Km. de distancia.

Nessa manhã presenciamos outro viajante internacional, o aqui chamado Maçarico rasteirinho, ou Calidris pusilla, segundo sua certidão de batismo.

Trata-se de outra avezinha pequena, medindo comumente 13 a 15 centímetros. A tradução de seu nome para o português, fica: pássaro minúsculo, cinza da orla, segundo o site WikiAves. De fato, o rasteirinho é mais gracioso ainda que o Maçarico pintado, que entrevistamos nessa semana mesmo. A propósito, os dois maçaricos se estranharam hoje de manhã, com o pintado expulsando nosso herói rasteirinho várias vezes.


Um dos momentos em que o Maçarico pintado, Actitis macularius expulsou o Maçarico rasteirinho Calidris pusilla do local de alimentação.












Essas águas que escorrem nas pedras da Ilha do Boi, atraem muito os maçaricos porque são habitadas por inúmeros pequenos animais que servem de alimentação para os maçaricos. Por essa razão, a disputa territorial.

Esse maçarico tem seu local de nidificação nas tundras canadenses e no Alasca. Sendo portanto um migrante de longas distâncias. É considerado pela IUCN  como uma ave quase ameaçada, na categoria NT.







No Brasil, as maiores concentrações dessa ave tem sido registradas no norte e nordeste do país, sempre no litoral. No Sudeste e Sul, os registros tem sido menores e aqui mesmo no Espirito Santo, conta-se apenas quatro ocasiões em que essa ave foi registrada. A última, anterior a esse nosso registro de ontem, foi em novembro de 2016, já quase quatro anos portanto.

Portanto, trata-se de um registro importante para nossa cidade e para os amantes das aves!!




Agradeço às pessoas que nos honram com suas visitas a essa página! 









segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Entrevista: Actitis macularius, o Maçarico-pintado.

 

Ele é incrivelmente gracioso, delicado e apresenta um curioso trejeito que ajuda muito no diagnostico da identificação: Um pequeno e ligeiro movimento de "vaivém" ao se locomover, seja fugindo de outras aves, ou procurando alimento nas pedras e lugares húmidos onde pode ser encontrado.


Actitis macularius, conhecido aqui no Brasil pela alcunha de "Maçarico- pintado" foi visto hoje, 19 de outubro, pela manhã, na Ilha do Boi, nesta cidade de Vitória -Es.


Ao vê-lo, logo reconhecemos o visitante frequente de todos anos e nos dirigimos a tão ilustre viajante, para uma pequena entrevista. Primeiro, procuramos contato próximo, mas ele, consciente dos perigos advindos com a pandemia da Covid-19 e outros pandemias pré-existentes, exigiu o cumprimento de um rígido protocolo: um distanciamento social de no mínimo uns 6 metros!.


Resolvido esse problema, nossa entrevista deu-se calmamente:

1) Pergunta: Olá amigo, quem é você, quer se apresentar?

R: Meu nome de batismo  é Actitis macularius, mas aqui no Brasil, sou mais conhecido pelo nome popular, Maçarico pintado.

2) Qual a razão desse nome popular?

R: Obviamente por que sou um maçarico, da família Scolopacidae,  mesma das Sanãs e saracuras. E pintado devido ao fato de na época da reprodução, apresentar a plumagem toda salpicada de pintas pretas, daí o pintado!


3) De onde você vem?

R:Sou um navegante de longo curso. Apesar de meu diminuto tamanho, 10 a 18 cm., viajo  longas distancias. Venho do hemisfério norte, Canadá e do Ártico. Lá esfria muito e venho passar o verão aqui no Brasil, principalmente nos manguezais e na costa, mas posso também visitar e ser visto no interior do país.

4) Por que sempre vem para Vitória nessa época do ano?


R: Como disse, gosto de passar o verão aqui no Brasil e Vitória tem muitos lugares com alimentação farta! A comida é muito boa. Também tem muitos locais onde me sinto bem: nos mangues e nesses locais como na ilha do Boi.

5) Que "comida boa" é essa que tem aqui em Vitória, que tanto te agrada?
R: Gosto muito desses animalejos que se escondem, ops, tentam se esconder nos orifícios das pedras e nas arvores do manguezal, como minúsculos caranguejos, baratinhas, camarões, minhocas de praia, pequenos moluscos, etc. Mas também aprecio outras delicias que não ficam à beira mar como lagartas, besouros, grilos, gafanhotos, etc. Esse mundo tem muita comida!

6) Dizem que aqui em Vitória, dos maçaricos migratórios, você é o primeiro que chega e o ultimo a ir embora. O que diz disso?
R: Geralmente chegamos aqui quando o outono no hemisfério norte está bem instalado, ai pelos meses de Outubro e Novembro. Mas tem alguns, apressadinhos, que já foram vistos a chegar em meados de setembro, logo no inicio do outono boreal. Talvez nos anos mais frios,  alguns comecem a viagem mais cedo. Para voltar, preferimos no inicio da primavera boreal, geralmente no mês de abril. Alguns, poucos, esperam até o inicio de maio.

7) A reprodução é toda no hemisfério norte?
R: Sim, sabe como é, temos de manter a tradição! Preferimos no período entre Maio e Agosto, com as fêmeas escolhendo o local de reprodução, no solo, uns quatro dias antes dos machos retornarem. É por isso que muitos aqui, nos meses de abril e maio, já ostentam a plumagem reprodutiva, chegando lá é só procurar uma companheira. Elas põem cerca de 3 a 4 ovos por ninho.





8) Finalizando, meu amigo, como é que vocês conseguem fazer tão bem essa viagem de mais de 10.000Km ?
R: Podemos viajar de dia ou de noite e geralmente viajamos sozinhos ou em pequenos grupos. Sendo uma ave pequena, em poucos dias podemos percorrer uma distância grande passando quase que despercebidos. E, ao contrário que algumas pessoas pensam, não viajamos em linha reta. Vamos fazendo paradas, Vitória, São Mateus, Salvador, Recife, até chegar ao Ártico!

9) Muito obrigado pela entrevista e sejam muito bem vindos!
R: OK.


Aos nossos amigos e amigas visitantes,  também um muito obrigado!


quinta-feira, 8 de outubro de 2020

ENCONTRO COM UMA AVE MUITO RARA: Cichlopsis leucogenys.

 Neste ultimo domingo, dia 07 de outubro, estivemos no município de Santa Teresa, proximidades da grande reserva biológica Augusto Ruschi. Uma das aves que há algum tempo estamos tentando conhecer, era o Sabiá castanho, Cichlopsis leucogenys. Tivemos a grande sorte de encontrar essa ave espetacular, quase por acaso. Minha esposa, Aninha Delboni, viu uma ave cor castanha pousar próxima, escondida dentro da vegetação do sub-bosque! Então, acionamos o gravador com a voz do leucogenys e eis que, passados alguns minutos, ele nos surpreendeu cantando bem acima de nossas cabeças.


A ave cantou um tempão bem acima de nossas cabeças! aproveitamos para gravar seu canto maravilhoso e depositamos no Wiki Aves.






Logo ao aparecer a ave ainda se mostrava discreta e um pouco tímida.













O Sabiá castanho se mostra uma ave muito bonita, bastante loquaz e com uma distribuição incrivelmente restrita. No mapa abaixo, retirado do Wiki Aves, podemos ver quão poucos são seus registros.
Apesar disso, essa ave não é considerada em extinção. A ameaça para essa ave é apenas quanto à destruição das matas da floresta atlântica. Habitante de poucos lugares dentro da mata atlântica, podemos dizer que ela habita regiões altas e florestadas da mata atlântica.
Colabora com esse raciocínio, conhecer algumas características dessa espécie. Como por exemplo, saber que a espécie realiza três posturas de três ovos em média a cada estação. Uma ave que tem postura de 9 ovos por ano, e, imaginando que desses 9 ovos, pelos menos uns três ovos se transformem em filhotes e consigam sobreviver, não deveria ser tão rara ou difícil de se encontrar.

Porém, em razão da raridade, talvez poucos casais consigam se encontrar na mata e procriar. O campo de estudos para desvendar os segredos dessa ave enigmática é, portanto, muito grande.

Segundo o Wiki Aves:

"O Sabiá-castanho é uma ave passeriforme da família Turdidae. Esta espécie apresenta ocorrência em uma grande região, com área maior que 20.000 km², não sendo considerada nos limiares da vulnerabilidade sob o critério de tamanho, mesmo considerando a grave fragmentação da população e do pequeno número de localizações onde a espécie é encontrada.
Acredita-se que o declínio da população não é suficientemente rápido para aproximar a espécie do status Vulnerável. (IUCN, 2012. Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas).
Sempre foi considerado raro e a primeira menção de localidade confiável no Brasil data apenas do final do século XIX."


É um habitante das matas altas acima de 700 metros e altitude em uma restrita região, de cerca de 20.000 quilômetros quadrados segundo o WA.

Esse sabiá possui parentes próximos ( outras sub espécies) na cordilheira dos Andes, na Colômbia, Peru e nos tepuis da Venezuela. Vê-se portanto, ser uma ave própria de regiões montanhosas.

Entretanto, já visitamos matas em regiões de maior altitude, onde, C. leucogenys não ocorre. Talvez essa população do leste do Brasil, seja uma remanescente, um relictos de eras antigas, onde talvez essa ave tenha sido mais comum.





Os pontos em vermelho são os locais onde o sabiá castanho já foi registrado e fotografado. Ocorre em apenas três estados dentro dos limites da região da floresta atlântica.






Esse é o Sabiá-castanho, C.leucogenys, uma ave incrivelmente bonita e interessante, habitante escondida do interior sombrio da floresta atlântica e infelizmente, bastante rara. Talvez até mesmo naturalmente!

Aos nossos visitantes, muito obrigado pelo interesse!