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terça-feira, 24 de setembro de 2024

NOVO ENCONTRO COM ARAPONGAS!

 

Procnias  nudicollis.

 

Considero essa ave tão especial, que todo registro que conseguir fazer, vou postar no site Wiki Aves, mesmo que sejam repetitivos! Trata-se da ave a que SICK, em seu livro Ornitologia brasileira, de 1985,  chama de “A voz da mata atlântica”. E realmente, a araponga é uma ave muito representativa do ambiente em que se abriga. Sendo um pássaro exclusivamente da floresta, a presença da araponga é um atestado de boa conduta referente à floresta em que vive.

Diversos autores já se pronunciaram a respeito da importância e da significância da araponga para a mata atlântica. Dentre esses relatos, uma dos mais belos é o de Eurico Santos, datado de 1939, referimo-nos ao livro Pássaros do Brasil, componente de sua coleção de titulo Zoologia Brasílica. Diz Eurico Santos: “Para entender aquela musica ( o canto da araponga!), é preciso perlustrar as longas estradas cheias de sol do nosso sertão. É naquele cenário de mágica, sob o sol ardente, quando sentimos quase a crepitação da terra em fogo, que o Ferreiro está em plena atividade. Pousado no cimo de árvore gigantesca, sentindo o suave calor da vasta oficina, dá ele à lima, enlevado no labor do trabalho. Malha e remalha, enchendo de ressonâncias as amplidões. ”  Ferreiro, é outro dos nomes populares que a Araponga é conhecida. Devido, claro, ao fortíssimo som de sua vocalização, que se assemelha muito a uma batida do ferro na bigorna, durante o oficio dos ferreiros.

Apesar de já ser considerada como ameaçada, a araponga ainda é bem encontrada em nossas matas remanescentes de bom  tamanho, principalmente na região serrana, onde temos visto todos os anos, somente na época de nidificação.

Fomos na sexta feira dia 20 de setembro, à cidade de Santa Leopoldina neste estado do Espirito Santo. Foi uma excursão com minha esposa e os amigos Elzeni e Evandro Limonge. Uma “passarinhada” como gostamos de falar. Essa passarinhada divertida, tinha, claro, a intenção de observar e fotografar aves da mata e, após, almoçar um apetitoso almoço da pousada próxima. A localidade escolhida foi o distrito de Chaves, onde se encontra a cachoeira do véu de noiva,  E  foi um pouco arriscada, pois o tempo nublado e úmido fazia prever uma chuva, como de fato ocorreu!. Até isso fomos beneficiados pois o tempo tem estado seco há bastante tempo. Nesse encontro que estou relatando, subimos um dos morros do lugar e lá ouvimos algumas vocalizando como se estivessem em um concurso de gritos! Subimos uma estradinha rural bem íngreme e chegamos debaixo da árvore onde uma das arapongas  estava cantando!



















Pelo timbre de sua voz, percebi tratar-se de um jovem já quase adulto. Talvez estivesse já no segundo ano de vida.

Somente com o binóculo consegui visualizar a ave no alto da copa. E começou a chover e o pássaro mudou de galho, foi para a parte mais alta como se quisesse se molhar, curtir a chuva e logo ficou com a plumagem arrepiada na tentativa de diminuir a umidade das penas.


Araponga se secando!

Não produziu fotos bonitas, mas o simples contato com essa ave emblemática da mata atlântica já vale qualquer sacrifício na tentativa de fotografa-la. E mais ainda, a sensação, ainda que rápida, de que nossas aves vão conseguir escapar da extinção e destruição das matas.

A localidade de Chaves fica no município de Santa Leopoldina e tem esse nome há bastante tempo., Além da cachoeira, cujo nome nos registros do município aparece como Cachoeira de Chaves, temos também uma belíssima igrejinha católica conhecida no local como Igrejinha de Chaves. Nos idos de 1940-50, Chaves  foi muito visitada pelos pesquisadores do Museu Paulista, hoje MZUSP, Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo. Na ocasião, os coletores do Museu, principalmente OLALLA, fez várias coletas de aves no lugar. Esses exemplares, foram referenciados no antigo livro de Olivério Mario de Oliveira Pinto, o  Catalogo das Aves do Brasil. Nessa magnifica obra, creio de 1944, temos vários espécimes mencionados como coletados em Chaves.


Estradinha rural, próximo ao local onde fotografamos a araponga. Observar as encostas florestadas e um plantio de eucalipto à esquerda. No céu, muitas nuvens, prenunciando a chuva, que felizmente, veio.



Encosta próxima ao local das fotos. Notar a vegetação com grande numero das imbaúbas brancas, Cecropia hololeuca, que, inclusive, é uma das árvores que produz muitas frutas nativas que são alimentos da Araponga.

Podemos observar, pelo mapa abaixo, que a Araponga, Procnias nudicollis, continua bem registrada na parte oriental do país, a Mata Atlântica.



Os pontos vermelhos são os locais de registros da araponga, Procnias nudicollis.

O Mapa de registros já efetuados e constantes na plataforma WIKI AVES: Mapa de registros da espécie araponga (Procnias nudicollis) | Wiki Aves - A Enciclopédia das Aves do Brasil



Valeu arapongas!  É esse o relato que tínhamos a fazer! 

Muito obrigado, pessoas amigas que nos visitam!


sábado, 7 de setembro de 2024

Encontro com uma ave desconfiada: a Borralhara!

 

ENCONTRO COM A BORRALHARA, Mackenziaena severa.

A Borralhara é uma ave da família Thamnophilidae e é citada no livro de SICK, Ornitologia brasileira, de 1985, como um “dos formicarideos mais notáveis do sudeste do Brasil”. De fato, quem presencia o aparecimento dessa ave dentro da mata e sua movimentação, não deixa de admira-la por suas peculiaridades.

Primeiro, pelo tamanho, cerca de 23 cm. O que a quase iguala a um Sabiá laranjeira, Turdus rufiventris! E também por outros predicados, como a capacidade de responder à imitação de seu canto por meio de gravador. Também seu comportamento  é notável! Devido seu tamanho e ao fato de ser ave das brenhas baixas, quase rasteiras, o voo da Borralhara é pesado, e também, não muito longo.

Seu habitat é a mata atlântica, seja em matas ou capoeiras. Esconde-se nas ramagens e brenhas densas, mas seu trai  pelo colorido e sendo uma ave de bom porte, acaba por ser localizada.

Como todos os “papa-formigas”, a Borralhara é uma ave insetívora, alimentando-se de insetos, larvas e pequenos invertebrados que captura nas folhas, galhos e também no solo.

A Borralhara é adaptável. Pode ser registrada até mesmo em plantações de eucaliptos com sub- boque desenvolvido com vegetação nativa. Nosso primeiro registro dessa ave deu-se no ano de 2013. Na ocasião, foi difícil conseguir o registro. Tivemos de nos camuflar com folhas de arbustos para a ave se aproximar e conseguirmos fazer as fotos.


Mackenziaena severa fotografada na localidade de Soído, Domingos Martins, ES. dia 05-9-24.

A degradação das matas, acaba por prejudicar muito a Borralhara, pois depende muito dos arbustos ou brenhas das matas para morar. Se o sub bosque é suprimido, fica sem onde forragear e se esconder. Observamos que pode existir em capoeiras desde que tenha um sub bosque denso, permitindo-lhe se refugiar.


A foto do primeiro registro que fiz dessa ave, em Agosto de 2013 na Serra do Limoeiro em Itarana. ES.










A Borralhara habita a região da mata atlântica, no Brasil, Paraguai e Argentina. No Brasil, começa a aparecer na Bahia, em regiões de altitude como em Boa Nova, e vai até o Rio Grande do Sul. No Espirito Santo é uma das aves que somente são registradas nas montanhas acima dos 500 m. A partir do sul do  Rio de Janeiro já existem registros ao nível do mar.

Distribuição dos registros da Borralhara no Wiki Aves, segundo o mapa da espécie: http://www.wikiaves.com.br/mapaRegistros_borralhara


Portanto, a Borralhara é uma de nossas aves notáveis da Mata Atlântica como disse nosso saudoso Helmut Sick!











Agradecemos as pessoas que nos visitam: Obrigado!