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segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O CONTORNO DE VITÓRIA

Já tivemos oportunidade de comentar aqui neste blogue  sobre a região que contorna a zona urbana de Vitória. No caso, o aglomerado urbano conhecido como "Grande Vitória", aglomerado esse que conta hoje em dia com cerca de 1,5 milhão de habitantes. Esse núcleo urbano e formado pelos municipios de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica formando uma área urbana continua. Essa região é margeada por estrada de rodagem bastante movimentada chamada de "Estrada do contorno". Essa  estrada desvia o transito pesado de carretas e caminhões para fora do perimetro urbano. Na sua parte inicial, até a ponte sobre o Rio Santa Maria de Vitória, essa estrada propicia ao visitante a visão de um belissimo conjunto de paisagens, composto de mata e baixadas. Essas matas são remanescentes da mata atlantica em bom estado de conservação e formam um belo conjunto florestal. Na parte voltada para o norte pode ser visto e apreciado o morro do Mestre Alvaro que com seus 833 metros de altura domina toda a paisagem da capital do Estado do Esp. Santo. Em suas encostas ainda podemos apreciar a belissima e pujante mata atlantica.

Localização da região segundo o Google Earth:



Podem ser observadas duas áreas florestais com verde intenso, separadas por áreas de um verde mais suave. Essas áreas, de verde suave são os alagados do contorno. Regiões de altura identica ao nível do mar e por isso mesmo, frequentemente alagadas pelas águas de chuva. Abaixo, as linha sinuosas indicam as duas vias de acesso que cortam a região: a  Estrada do Contorno, chamada tecnicamente de BR-101 e a estrada de ferro da Vale S/A, a Estrada de Ferro Vitória-Minas que conduz os vagões de minério até o Porto de Tubarão. Essas duas áreas florestais, medidas em linha reta pelo Google Earth, possuem cada uma cerca de 2.000 hectares de área verde florestada. Essa região é muito importante para a conservação da natureza e apesar disso vem sendo dizimada por empreendimentos imobiliários e grandes empresas de comercio exterior e de exploração industrial.
As últimas passarinhadas que temos feito no lugar sempre tiveram como foco os alagados e alí um grande número de espécies foram registradas. Relatamos esse fato em posts anteriores, vide http://www.peixesaves.blogspot.com.br/2012/04/as-aves-do-brejao-da-estrada-do.html   e também: http://www.peixesaves.blogspot.com.br/2012/02/passarinhando-na-estrada-do-contorno.html

Mas nossa curiosidade também se voltava principalmente para a boa representação florestal do lugar, representada não apenas pelo capoeirão existente no local conhecido como a antiga "Fazenda Larica", como também para as encostas do Mestre Alvaro. Sobre o Mestre Alvaro, nosso conhecimento é antigo, já tendo participado de várias caminhadas e excursões a seu topo. Essas muitas excursões ao maciço do Mestre Alvaro, possibilitou-nos, inclusive, a publicação do artigo "Algumas aves florestais observadas na APA do Mestre Alvaro" no Volume 4, number 1 da revista Lundiana  em 2003, janeiro/junho.
Com satisfação, verificamos que a quantidade de matas reduziu-se pouco ou permaneceu praticamente a mesma desde aquela época.
A seguir, algumas fotos mostrando o aspecto do lugar:

A pedra das Tres Marias, que fica no macico do Mestre Alvaro:





Aspecto do capoeirão no lugar chamado de antiga "Fazenda Larica", lugar da mata que fica à esquerda na figura do Google Earth acima.:





Área de mata de encosta, fora do Mestre Alvaro, podendo ser vista a árvore conhecida como Imbaúba da folha branca Cecropia hololeuca, uma das mais belas da mata atlantica e também uma árvore que é verdadeira "lanchonete" para as aves e mamiferos que gostam muito de suas infrutescências, que possuem a forma de pequenos cachos de bananas,:

Uma árvore dessa região, do capoeirão, ocupada por ninhos do Japu, Psarocolius decumanus:


As encostas do Mestre Alvaro possuem uma mata mais conservada e com aspecto de mata virgem, como pode ser visto nas fotos. Porém, são matas secundárias em bom estado. Porém, informamos e lembramos que no alto do maciço, a partir dos 600 mts. de altitude mais ou menos na encosta voltada para o sul, ainda temos alguns pedaços da mata que são remanescentes da mata primária.




Feito esse capítulo introdutório, passemos ao relato das aves vistas no lugar, antes, vamos comentar que essas últimas passarinhadas ocorreram pela manhã nos dias 12 a 14 de outubro de 2012 e contaram com a valiosa e amiga companhia dos amigos do COA-ES, Evandro Limonge e Justiniano Magnago, que muito contribuiram para o conhecimento dessas aves.

Talvez a ave mais "importante" que vimos, seja o Gavião-pombo-pequeno, o Amadonastur lacernulatus. Conhecemos esse gavião no Mestre Alvaro, onde o registramos em 1987 e agora, tivemos essa alegria de ve-lo planando encima dos capoeirões:


Outros gaviões, vimos planando nos mesmos lugares, primeiro, o Gavião Sovi, Ictinia plumbea, vimos três, talvez uma familia. A particularidade desse pequeno gavião, é que aparece aqui no ES, sempre na primavera, desaparecendo depois:


Outro gavião, visto planando no lugar, o Gavião-asa-de-telha, Parabuteo unicinctus,:

Entre as aves passeriformes, Já relatamos sobre a nidificação do japu, foto abaixo de um deles, proximo à árvore dos ninhos:


Seu primo menor, o Guaxe,Cacicus haemorrhous, também é habitante do lugar mas não localizamos colonia deles.:

Outros grupos de aves florestais que sempre passeiam pelo local, saíras e saís, são frequentes. Aqui, uma foto da saíra cambada-de-chaves, Tangara brasiliensis, que ocorre quase sempre nas matas litoraneas e de baixada.

A saíra de chapéu-preto Nemosia pileata:


Na lagoa proxima, vimos o martim-pescador Verde Chloroceryle amazona:



De novo no capoeirão, pudemos registrar  o Caneleiro-preto Pachyramphus polychopterus:



Continuando nossa busca por aves, no dia 14 de outubro registramos as seguintes espécies, apesar dos dias nublados: o pica-pau Veniliornis maculifrons:



O sebinho de crisso-castanho Conirostrum speciosum:


nos capinzais proximos, fotografamos o Tico-tico-do campo Ammodramus humeralis:


Nas proximidades da lago pudemos ver um individuo do pato-do-mato Cairina moschata, que inclusive veio voando em nossa direção e pousou em uma imbaúba, sem se incomodar muito com nossa presença:



Nessa área, volta a vegetação mais alta, com as encostas proximas da mata bastante presente:


E passou voando a grande altura um individuo do japu Psarocolius decumanus:


Guaxes também vocalizavam muito nesse  lugar, mas, ariscos, não se deixaram fotografar. De carro pela estrada fomos percorrendo a região e numa encosta do morro vimos perto de nós um gavião-de-rabo branco Geranoaetus albicaudatus planando e às vezes ficando imóvel como quem estava dependurado por alguma corda invisivel:



Retornando a região campestre vimos muitas aves campestres já registradas mas que não fotografamos. O curioso foi conhecer, escondidas em meio a um capoeirão, essas ruínas abaixo, que quase sempre deliciam os fotografos:




Não sabemos que ruínas são essas. Voltando para  casa, ao longe, vimos Vitória a bela capital do Espirito Santo, muito perto e mostrando que mesmo proximo a um grande centro, e possível observar aves interessantes:


Um abraço a todos nossos visitantes!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

EXPEDIÇÃO MATA FRIA - TRÊS PONTÕES -ES

No último fim de semana, nos dias 6 e 7 de outubro de 2012, acompanhados dos colegas Israel Kuster e José Ronaldo de Araújo, visitamos a localidade de Três Pontões, na pousada Cantinho dos Três Pontões do Itamar Tesch. Desta feita, fomos visitar remanescentes de mata secundária alta, muito semelhantes a mata primaria. Esses remanescentes, conhecidos como "Mata Fria", localizam-se a 1.000 metros de altitude e possuem muitas espécies da mata atlantica ameaçadas de extinção. Logo no dia 6, fomos surpreendidos com a existência de bom número de individuos da Tovaca Chamaeza meruloides, mas não conseguimos fotografar  nenhuma apesar de ficarmos em uma ocasião há apenas  6 metros do pássaro que caminhava cuidadosamente dentro da mata sombria, com as pernas finas esticadas. Pudemos verificar e tirar fotos de algumas aves, como o araçari-poca Selenidera maculirostris:






Essa belissima ave não é arisca e atendeu ao chamado rapidamente. Mas foi apenas esse que pude fotografar no primeiro dia. A noite fizemos corujada no pico dos três pontões e quem apareceu foi o belissimo bacurau-tesoura Hydroplsalis torquata:



Pudemos apreciar o belissimo por do sol do lugar:



No dia seguinte pudemos começar  cedo, por volta de 7hs e nesse dia fizemos importantissimos registros como passamos agora a relatar:

O corocochó  Carpornis cucullatus, cotinga muito importante, habitante de lugares altos e frios. Atendeu ao chamado caracteristico da espécie e apareceram alguns. Essa magnifica ave é considerada como ameaçada de extinção devido à derruabada das matas.



Outro cotinga sensacional que lá registramos vocalizando  muito, o tropeiro da serra, Lipaugus lanioides:





Um incrivel e belissimo habitante do interior, da mata, o Tangarazinho, Ilicura militaris, aqui fotografado em um tronco horizontal caído dentro da mata. A ave chegou a iniciar a execução de uma de suas danças nupciais, aparecendo duas femeas, mas não conseguimos fotografar:


O dia estava propicio ao birding e apareceram outras aves do interior da floresta, como  o olho-falso, Hemitriccus  diops, na foto acima.
o interior da mata, vimos ainda o Sabiá-coleira, Turdus albicollis:



Outra, essa mais comum, que vimos dentro da mata, o bico-chato Tolmomyias sulphurescens:




Várias espécies do interior da mata que registramos, como o trepador-coleira, várias saíras, a tovaca, etc não conseguimos fotografar, mas vão ficar para as proximas excursões. Ainda na excursão, fizemos vários registros na beira da mata e que são eles;

O assanhadinho de cauda preta, Myiobius atricaudus:



A saíra douradinha, Tangara cyanoventris:




O Surucuá- variado, Trocon surrucura:



O beija-flor  preto, Florisuga fusca:




Foi uma extraordinária excursão, tendo registrado ainda ao chegar à pousada, uma ave maravilhosa e belissima, a maracanã-verdadeira Primolius maracana, que deixamos agora como fecho final dessa postagem sobre as aves de três pontões:


Terminamos esse post, desejando a todos  muitas aves e alegrias,

jose silverio.  um abraço a nossos visitantes.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

EXPEDIÇÃO À PEDRA DOS CINCO PONTÕES = ES.

A Pedra dos cinco pontões é um monumento natural tombado pelo Patrimônio histórico do Estado do Espirito Santo. Trata-se de um magnifico maciço montanhoso natural que engloba terras dos municipios de Laranja da Terra e Itaguaçu. Seu pico mais alto alcança 1.200 metros de altitude e são várias as lendas e histórias que se contam sobre o lugar. A  "pedra"  como é conhecida constitui-se de um magnifico conjunto de cinco picos graniticos que se erguem e podem ser apreciados a grande distância.


Todo esse conjunto de rochas, incomuns em seu aspecto de relevo brasileiro, são margeados por remanescentes da floresta atlantica, existindo ainda uma mata em bom estado de conservação.


A beleza cenica das montanhas é tão grande que tem atraído visitantes de várias partes para conhece-las. Inclusive, anualmente é organizada uma caminhada ecologica que procura chegar até o pico mais alto. Todas essas formas de turismo precisam ser bem orientadas para que não se causem transtornos e destruição da fauna, flora e também das montanhas.



Nossa visita deu-se no ultimo dia 30 de setembro, um domingo ensolarado. Recentemente tivemos uma boa queda nas temperaturas normais aqui no Espirito Santo. Durante toda a semana tivemos minimas em torno de 14-15 graus e nesse domingo, já na primavera, a temperatura aumentou um pouco o que nos propiciou condições boas para a observação de aves. Nossa excursão foi composta dos amigos e membros do COA, Eu, José Ronaldo de Araujo e Israel Kuster,  que vieram de Afonso Claudio para nos encontrarmos na encruzilhada da estrada Itarana-Laranja da Terra, que vai para cinco pontões.


Apesar do pequeno atraso da comitiva que veio de Afonso, pudemos iniciar nossa caminhada por volta das 7,30hs. depois de muito bem recepcionados por D. Penha e seu marido o Sr. Gelson, que nos brindaram com um delicioso café da manhã composto de café da roça com bolo e queijo natural. Iniciamos a subida em busca de um dos lados da mata, mais fechada, onde imaginamos que veriamos mais aves. Porém, sem nenhuma trilha que permitisse adentrar a mata. Sem muito sucesso. Nesse local vimos poucas aves, como o garrichão Thryothorus genibardis e o Petrim Synallaxis frontalis. 


Voltamos a apreciar a beleza do lugar. Da base da pedra, já a uma altitude de uns 800 metros, é possível vislumbrar  todo o  horizonte. Pode-se  ver, por exemplo, a pedra dos Três Pontões em Afonso Claudio, lugar de várias de nossas passarinhadas:


Outras elevações importantes, como a pedra da Lajinha:


Continuando nossa busca por aves, finalmente elas começaram a aparecer. Antes viamos aves mais comuns. Apareceu a maria-preta de garganta vermelha, Knipolegus nigerrimus.

o Urubu de cabeça vermelha, Cathartes aura:


Quando finalmente, já por volta das 9,30hs, resolvemos ficar do lado esquerdo da mata, é que tivemos mais sorte e as aves apareceram em bom número e várias espécies.
Logo, vimos um bando misto onde se sabressaiu a Juruviara, Vireo olivaceos:


Outras aves vocalizavam  muito, como  choquinha de peito pintado, Dysithamnus stictothorax, mas, infelizmente nossas fotos não ficaram boas. Mas um dos comensais  mais cantadores e graciosos desse bando era  o Chorozinho de asa vermelha, Herpsilochmus rufimarginatus. Realmente essa avezinha deu um show e  nos encantou não só com sua disposição, mas também com a graciosidade de seus movimentos: a cada canção ela balança  a cauda em um movimento caracteristico de muita graça. A foto da artista:



Outra ave belissima e muito inquieta, que também chegou a nos brindar com suas exibições  foi a saíra-ferrugem, Hemithraupis ruficapilla.Vários casais estavam presentes, vocalizando intensamente. Ás vezes tinhamos a impressão que iriam pousar nas nossas lentes  tão próximas chegavam de nós.:




De repente, apareceu sobrevoando  os picos com seu vôo magestoso, aquela que pode ser considerada como a habitante mais ilustre de nossas elevações rochosas, a Águia-chilena  ou águia serrana, Geranoaetus melanoleucus. Ano passado, estivemos nessas serras e ficamos com a impressão de que eram algumas as águias. Hoje só vimos uma, mas, como pode ser visto por uma de nossas fotos, a ave deve estar nidificando pois observa-se uma placa em seu peito, sinal de que pode ter ficado deitada  sobre os ovos e, naquele momento, tinha iniciado seu turno de liberdade.

Ela aparecia e depois sumia, levando alguns minutos para retornar. Tiramos várias fotos mas a distância era grande.




De qualquer forma, percebe-se a beleza desse extraordinário gavião e lembramos, a pedra dos cinco pontões é o segundo lugar  que o registramos no Espirito Santo. De tanto procurar a aguia ao pousar  nos paredões, fizemos várias fotos e pudemos vistoriar as paredes. São inumeros os locais onde essas águias podem nidificar nos penhascos:




Pensei ter encontrado  uma, descansando em um desses buracos, da rocha, mas  com o zoom da Canon 100-400mm L, pude bisbilhotar  foi um urubu comum, Coragys atratus pousado calmamente em sua "varanda" rochosa.:

A distância é muita e o urubu é o ponto preto na cavidade maior. Com certeza esses urubus também nidificam nesses penhascos.


Tentamos com o play-back  o som de várias aves do lugar. Inclusive, com imitação do canto do falcão-de-peito vermelho, o Falco deiroleucus, e, para nossa surpresa, houve resposta muito parecida. Infelizmente a ave não apareceu no aberto e não podemos afirmar co certeza. Mas o canto era de deiroleucus  ou do cauré, Falco rufigularis. Pouco depois quem apareceu, belissimo e dando também um show de canto e vocalização  foi o grande Pica-pau de banda branca, o Dryocopus  lineatus:



Já na descida, finalmente conseguimos fotografar  o garrinchão pai-avô e na casa de D.Penha, a maria cavaleira de rabo enferrujado, Myiarchus tyrannulus, fazia  o ninho:




Conversando com o Sr. Gelson sobre aves do lugar, ele nos informou que há poucos dias atrás, ainda em setembro, tinha aparecido uma araponga Procnias nudicollis, que ficou pelo menos uma semana  cantando e batendo no lugar. Infelizmente não nos esperou. E por falar em esperar, D,Penha nos aguardou com um almoço maravilhoso. Arroz, feijão, salada, carne de porco, carne ensopada de Boi, torta capixaba e outras guloseimas e um gole de cerveja para molhar a garganta. Os "expedicionários", já cansados e com fome, não se fizeram de rogados:




E assim terminamos mais  uma passarinhada  muito divertida e cheia de aventuras em nossas matas.Voltaremos mais  vezes, e, segundo D.Penha, pode-se  mesmo acampar no terreiro para bem cedo iniciar-se a subida da serra.

Um abraço em todos os nossos amigos visitantes!
josé silvério lemos.